Iniciando minhas participações no Forquilhinha Notícias, apresento um texto meu produzido em 2012 que versa sobre a História, algo tão evocado nos dias atuais.
“A história está ali, enterrada ou cerrada atrás de uma porta. Ledo engano. A história está em todo lugar e mesmo assim muitos não a veem.
Debaixo de uma pedra ou mesmo parede de seu quarto, ou parede do velho paiol do nono. Naquela placa da esquina ou nome pichado na parada do ônibus. A história está nos lábios boêmios dos bares da vila e n’alguma foto esquecida numa caixa encima do guarda-roupas.
A história está à espreita, nas entrelinhas sufocadas de uma piada, racista, xenofóbica, machista ou inocente. A história nunca esconde seus dentes.
Sob uma figueira ou parreiral. Um velho lustre ou casa abandonada. A história persiste no velho, no empoeirado, no esmaecido de um botão de rosa amassado entre as folhas de um diário. Ali está a história. Nefasta ou nefanda, sagrada, sarcástica, irônica ou profana. Material, oficial, fragmentada ou abstrata. Mais afiada que o antigo canivete, mais perfumada que o bem guardado enxoval de casamento.
Absurda, como a notícia de um jornal. Violenta como o sangue e marcas de tiros. No galho seco da árvore atingida por raio num temporal.
A história é museu itinerante de um passado sempre presente, indo e voltando assim de repente. A história evoca lágrimas, suspiros, longos suspiros, um ar de graça. Ensejo de boas novas, previsão e ternos presságios de pessoas amadas. Para onde quer que se olhe se vê a história. Moldando-se e remodelando-se. Sempre se construindo, se fazendo e se refazendo sob os olhares de cada ser humano.
Porém, como já percebemos, a história não está distante. Ela está em cada um de nós. Em nossos sonhos e rimas, erros e ousadia. Quando vivemos somos apenas vida. Sem querer, e por assim ser, não vemos a história nos envolver. São fatos cotidianos, nosso jeito de entender o mundo. É nossa forma de pensar e imaginar. E por causa da história, seu jeito de engendrar cada coisa num novo lugar, novos acontecimentos sempre nos levam a renovar.
O que era comum, o que era corriqueiro se torna interessante o bastante para alguém querer historiar.
Gravador na mão, caneta e papel, máquina fotográfica. Da nossa lembrança dá magia à memória. Se embevece com velhos papéis que não damos importância. Fotos antigas, peças enferrujadas e alegria de quem descobriu uma grande aventura. De nossos olhos, de nossa pele, de nossos pensamentos extrai páginas e páginas. Nomes difíceis e pomposos, um ar vitorioso e vivifica uma grande história.
Era ninguém, um fato comum, um dia qualquer. Era história. Encravada no nosso peito, na paisagem diária, no jeito de agir, pensar e sentir. É história. No ato mais comum e mais sagrado de existir.”