Psicóloga Jéssica Horácio – CRP 12/14393 – Psicoterapeuta Corporal
Todo indivíduo carrega consigo o desejo de ser amado incondicionalmente, ou seja, de ser aceito do jeito que ele se apresenta ao mundo. Nosso primeiro vínculo afetivo se constrói através daquele que sana as nossas necessidades, que satisfaz as nossas angústias. Sendo assim, somos seres relacionais e buscamos constantemente vínculos onde é possível sermos acolhidos, e consequentemente, aceitos, satisfeitos de acordo com nossas necessidades e desejos tanto por aquilo que somos quanto por aquilo que temos (podemos oferecer).
Porém, quando as relações favorecem situações onde estão presentes questões que envolvem traições, substituições e enganações, deixam marcas na personalidade de quem as vivencia, e se o indivíduo foi a pessoa que se sentiu diminuída pelo outro, poderá desenvolver uma baixa auto estima, e quando recorrentes tais situações, e diante da dificuldade de compreender a realidade de uma forma saudável, poderá desenvolver núcleos psicológicos onde o sentimento de inferioridade é o que impera e rege todos os seus comportamentos.
Contudo, diante da dificuldade de aceitar as próprias limitações e compreender a realidade, e mais que isso, por ter desenvolvido uma crença disfuncional de que existe algo melhor que ele próprio, e assim ter dificuldade de compreender que a traição não significa uma troca por alguém melhor, por exemplo, poderá fazer com que o indivíduo construa inconscientemente máscaras psicológicas para não ter que lidar com o sofrimento oriundo da traição ou humilhação e do sentimento de inferioridade. É assim que surge o orgulho. Na tentativa de não ser diminuído novamente perante o outro, o indivíduo adota comportamentos de desdém, ou constrói crenças pessoais de que ele é maior e melhor que determinada pessoa, por exemplo, e que sendo assim, não irá se diminuir (demonstrar seus verdadeiros sentimentos para ela).
Na psicologia entende-se que o orgulho é uma defesa contra a sombra. A sombra corresponde a um aspecto da personalidade do indivíduo que possui comportamentos e sentimentos que não são aceitos por ele, logo, inconscientemente ele nega tais aspectos e passa a desenvolver um mecanismo para se defender deles, neste mecanismo pode então estar presente o orgulho.
Por trás daquele indivíduo que tem dificuldades de assumir o que sente ou de reconhecer as conquistas do outro, podem existir sentimentos de inferioridade consigo. Algumas pessoas sentem muita dificuldade de assumir as suas verdadeiras vontades principalmente quando elas implicam na aceitação do outro para a sua satisfação. O medo de se sentirem fracas, pequenas, humilhadas e nas “mãos do outro” faz com que elas criem jogos de “faz de conta”, ou o famoso “se fazer de difícil” para obterem o que tanto querem. Em relacionamentos o orgulho se apresenta sob a forma de negar os próprios sentimentos, dificuldade de demonstrar o que sente, vontade de se sobressair perante o outro, ignorar quem o (a) procura para se sentir desejado (a)… Esses comportamentos se relacionam sempre com outros cuja origem pode ser insegurança, medo da solidão, raiva da submissão, desejo de ter o controle sobre tudo…
O medo de novamente entrarem em contato com os sentimentos mais primitivos de submissão, traição e ou humilhação faz com que estes indivíduos não sejam autênticos consigo e automaticamente com o outro, e passem a acreditar que precisam sempre ser melhores. Ser melhor para estas pessoas corresponde a não entrar em qualquer relação que envolva qualquer possibilidade de entrega afetiva, pois para elas, as marcas do passado em contextos de submissão são tão profundas, que evitam novamente passar por isso, e como o resquício das marcas traumáticas vem acompanhado de raiva, essas pessoas tendem a querer diminuir o outro ou vê-los “correndo atrás” delas. Esta é uma forma de se convencerem de que não são inferiores, afinal, existe alguém que está implorando pela sua atenção ou que se submete à ela.
Percebe-se a partir desta compreensão que o indivíduo que tem seus comportamentos orientados pelo orgulho é ainda, embora crescido, uma criança com o orgulho ferido e que tenta através das “armas” que possui, muitas vezes infantis, fazer justiça afim de mostrar a sua ira e afirmar a sua posição existencial de suficiência no mundo, desenvolvendo comportamentos prepotentes, arrogantes, “frieza” ou distanciamento emocional e necessidade de auto afirmação que evitam em alguns momentos entrar em contato com o sentimento de inferioridade mas em contrapartida trazem novos conflitos psíquicos.
Identificar o que se sente e a origem dos sentimentos é o primeiro passo para elaborá-lo. Elaborar um sentimento vai muito além de entendê-lo, é necessário tratar as marcas deixadas na psiquê do indivíduo para que com uma nova perspectiva da situação, ele consiga construir uma nova ressignificação para ela e transformar os seus comportamentos de acordo com os novos sentimentos.
Por isso o acompanhamento psicológico é tão importante. É através da psicoterapia que o indivíduo conseguirá compreender o que sente e assim se desenvolver de uma forma mais saudável e que o satisfaz.