Psicóloga Jéssica Horácio – CRP 12/14394
Psicoterapeuta corporal e Tanatóloga
O que podemos fazer quando encontramos alguma dificuldade? Podemos buscar tanto recursos internos quanto externos para lidarmos com a tal dificuldade. Parece tão lógico e simples considerar a existência de alternativas, mas, na prática do dia a dia nem sempre recorremos à elas.
A verdade é que há momentos em que desconhecemos ou esquecemos que temos dentro de nós recursos para nos amparar e nos acolher, há situações que são tão doloridas que dois braços pra se abraçar é pouco, é necessário ter no mínimo quatro, e se ver em outros olhos, e ouvir outra voz além da própria.
Se é lógico, por que às vezes resistimos em utilizar deste recurso?
A maior parte da população mundial vive em uma relação íntima com a exigência à produtividade, característica essa que é própria de uma espécie que encontrou no capital uma alternativa para anestesiar as carências que o dinheiro não consegue suprir e para mensurar a evolução da nossa própria espécie comparada com as demais. É claro que essa cultura que nos cerca dá margem para a construção de crenças em torno do consumo, da competitividade, e principalmente, da alienação emocional. Na verdade, construímos um padrão sobre o que é considerado “correto” de sentir. Ou seja, além de estereotiparmos roupas, estilos, formas de se portar dentro de cada gênero, também construímos estereótipos emocionais.
Estamos com medo de sentir. Estamos com medo de compartilhar qualquer coisa que seja diferente de conquistas, sucesso, euforia, obtenção e destaque. E por sentirmos medo de sentir tristeza, arrependimento, raiva, impotência; nos afastamos uns dos outros e, engolimos sozinhos as nossas dores.
Estou falando de vulnerabilidade, aliás, nunca uma palavra nos assustou tanto quanto esta, mas não precisamos ir muito longe para entender o porquê. Se somos exigidos e nos exigimos a mostrar só o que combina com um padrão social emocional, logo consideraremos errado, feio ou doentio apresentar o que foge “à regra”. A vulnerabilidade quando não é estimulada, tende a nos assustar.
Estamos no mês de setembro, um período do ano onde são lançadas campanhas de prevenção ao suicídio pela própria prevenção em si, mas também como uma forma de falar sobre saúde mental e conscientizar a população mundial da importância de pedir ajuda diante de momentos dolorosos. Se estamos vivendo este movimento é porque viver dentro da “regra” tem causado sérios danos psicológicos, físicos e sociais.
Estamos adoecendo por não nos permitir sermos humanos, estranho isso né? Mas é o que acontece quando uma parte nossa é negada: essa parte não some, aliás, quanto mais a negamos, mais intensa ela fica e acaba influenciando pensamentos, escoando pelo corpo e desenvolvendo doenças psicossomáticas, impedindo de forma geral a fluidez da vida.
Bem, a nossa sociedade fortalece crenças que mentalmente nos deixa doentes, nossa família também se contamina com essas crenças por ser inscrita nesta mesma sociedade, mas, há muitas pessoas que já conseguiram quebrar pra si essas crenças nocivas à saúde. Há profissionais na área da saúde mental que se dedicam a estender as mãos para além da própria profissão. Há voluntários que querem ouvir a dor de alguém e oferecer uma realidade mais empática e leve. Há amigos, colegas de estudos e de trabalho que querem abraçar, cuidar zelar. E sim, há familiares que por amar só querem nos ajudar.
Se você percebe que a sua vida está lhe parecendo cansativa e dolorida, faça um movimento em prol do seu bem estar, primeiramente reconheça a sua dor, se abrace e do seu jeitinho, busque o apoio que você tanto precisa e merece e que alguém certamente está esperando a oportunidade para lhe dar.
Se permita quebrar também essas crenças que geram doenças, seja os braços de quem precisa de um abraço, seja os ouvidos de quem precisa desabafar e, ofereça o seu acolhimento para aquele que no momento só precisa encontrar uma trégua pra pela dor passar. Vamos olhar com mais atenção para quem está ao nosso lado, vamos conversar sobre assuntos que fogem da temática: “Você deveria, você precisa, você tem que”. Falar sobre como nos sentimos pode ser um jeito de resgatar o humano que mora em nós.
Não é sobre vestir um papel de psicólogo, aliás, os únicos que devem vestir a camisa dessa profissão é justamente esta categoria, afinal, possuem formação para compreender o funcionamento humano. Mas, isso não impede que sejamos empáticos e que encaminhemos nossos colegas, amigos, familiares e vizinhos para um atendimento na área da saúde mental.