Psicóloga Jéssica Horácio – CRP 12/14394

Psicoterapeuta Corporal e Tanatóloga

O que existe depois que se ganha a maratona? Se prepara para outra maior ainda. Estou falando de esporte mas poderia estar falando sobre a corrida produtiva para atingir o pódio do reconhecimento. Você sabia que existem pessoas que passam toda uma vida lutando para alcançarem um reconhecimento que fora idealizado lá na infância?

Mas, geralmente quando essas pessoas estão indo para a próxima conquista se deparam com algumas limitações que as impedem de continuar nesta maratona produtiva. As limitações incluem taquicardia, tremor nas mãos, insônia, boca seca, falta de ar… Sim, estes são sintomas típicos das crises ansiosas. Quem já teve uma crise de ansiedade sabe o quanto ela é complexa porque de repente parece que toda a nossa realidade se tornou aquilo que estamos sentindo no nosso corpo.

Existe um livro chamado “Escrito nas estrelas” de Sidney Sheldon, e ele conta a história de uma menina que quando criança fora rejeitada por um pai que também carregava consigo dores muito profundas ao longo da sua história. Essa menina cresce desejando ser vista emocionalmente por este pai, é então que ela literalmente constrói um império, ela passa por cima de tudo e de todos e até da própria saúde mental buscando esse tal de reconhecimento, e acumula dores que poderiam ter sido evitadas se ela tivesse aprendido a se reconhecer independente das suas conquistas, se ela tivesse se acolhido não como a dona de um império mas como a menina que só queria ser amada por um pai.

Eu trago essa história porque frequentemente recebo no consultório pessoas que me dizem assim: “Poxa! Logo agora que eu ia conseguir descansar!” ou: “Essa crise de ansiedade poderia ter aparecido depois de eu conquistar o que eu queria!”. O que elas estão tentando me dizer é que gostariam de escolher poder respirar só depois que a maratona tivesse acabado. E é quando pergunto à elas: “Será que não viria outra prova depois desta?” E quando eu ouço essas falas e conheço a história dessas pessoas eu lembro deste livro, e naquele momento reconheço que por trás daquele ser humano maratonista existe uma criança clamando por atenção e amor incondicional.

Ás vezes a estafa, o cansaço físico, não são percebidos e o corpo então começa a buscar outras formas de mostrar a necessidade da pausa. O desgaste mental é quem promoverá então os sintomas ansiosos. Lutar contra eles é a primeira opção de quem não aceita ser parado, mas a resistência se esvai quando os sintomas aparecem mais intensos e trazendo consigo outros também muito importantes como a tristeza e o desânimo.

É claro que é difícil compreender o que desencadeou os sintomas de ansiedade, principalmente quando se acreditava ter controle de tudo, mas fica mais fácil olhar para eles quando os vemos como respostas corporais diante da forma como temos nos tratado. É muito importante que além de buscar uma maneira de eliminar os sintomas, se invista também em descobrir a mensagem que eles querem passar.

A medicação psiquiátrica poderá ajudar na remissão dos sintomas e ela poderá ser a porta de entrada para a psicoterapia no tratamento do transtorno de ansiedade. É através da psicoterapia que o paciente tem a possibilidade de entender em que momento fez este pacto de produtividade consigo, para fugir de que, e como desfazer este pacto que tem promovido o seu adoecimento físico e mental.

Você pode dizer que se esforça tanto porque ama a sensação de conquista que o resultado trás, e isso é muito genuíno porque os aplausos tem essa característica mesmo, o problema é que a sensação não dura um tempo significativo, é que é você não precisa do aplauso da torcida, a verdade é que você quer o aplauso de quem você acredita que não torce por você. Ah, uma última pergunta: “se você se desgasta tanto por amor ao que faz, me diz por que o pódio é tão importante para você?”.