Psicóloga Jéssica Horácio – CRP 12/14394 – Psicoterapeuta Corporal
Amor próprio não tem a ver com orgulho, vingança, desdém ou qualquer outra ação para punir o outro pelo dano causado. Até porque a responsabilidade do dano é do outro, mas a abertura para tal dano, é nossa. Amor próprio se trata de ações onde mesmo amando, gostando, querendo bem o outro (com suas qualidades e falhas humanas), abdicamos da relação porque percebemos que ao permanecer nela teremos mais dor do que prazer.
Então, amor próprio tem a ver com cuidar da própria vida independente dos afetos que se tem por outrem, é sair daquele lugar que até então era aconchegante, é dizer tchau mesmo que a vontade no momento seja a de fingir que está tudo bem e ficar ali agarrada (o) em um passado feliz. É saber reconhecer os próprios limites, é dizer o que vier a tona porque o medo de não ser mais aprovada (o) não faz mais nenhum sentido.
Mas, por que temos dificuldade de nos amar na mesma proporção que amamos o outro, ou seja, de onde surge a baixa auto estima? A auto estima corresponde a forma como o indivíduo aprendeu se perceber no mundo e ela é adquirida através das primeiras relações deste indivíduo. Famílias onde o padrão de cobrança impera, em que a competitividade é uma constante, ou que mantém condutas de censura e castração, contribuem para que o indivíduo construa crenças negativas a respeito de si passando a se perceber como um ser incompleto e insuficiente. O medo da solidão fortalece esses sentimentos negativos a respeito de si, fazendo com que o indivíduo se doe totalmente nas relações sem respeitar os próprios limites até mesmo porque para ele não existem limites para evitar ficar sozinho e para ganhar a atenção de alguém que julga mais importante que a si mesmo.
E, como podemos desenvolver o amor próprio em uma auto estima fragilizada? Identificar todos os prejuízos da falta de amor próprio é fundamental para que o indivíduo não faça somente exercícios disciplinados para se amar, mas sim que ele perceba as consequências do seu padrão de funcionamento e todo o sofrimento envolvido nele. Começar a olhar para si ao invés de somente para o entorno também é importante para o indivíduo entrar em contato consigo e resgatar lembranças onde se sentiu amado, foi reconhecido e respeitado por aquilo que é e que faz. E assim, ao reconhecer o sentimento de amor dentro de si, inicie um processo eterno e interno de auto cuidado e de carinho por quem é.
Se amar então significa calçar o sapato no número certo pra não causar nenhuma dor para os pés, nenhum prejuízo para uma parte que é sua. Significa se permitir sair de tudo que aperta, prende, machuca, dói, que não é compatível com a nossa saúde emocional e projeto de vida.
Então preciso te perguntar, existe algo hoje que machuca o seu EU? Existe algo que te aperta, aprisiona, te nega e não te aceita por inteira (o)? Se sim, talvez seja a hora de tirar estes sapatos e buscar aquele que não só te enfeita, mas que também te cuida, te conforta e te ajuda a dar mais passos adiante.
É o teu corpo, são as tuas emoções, são os teus sentimentos. É a tua vida.
Tudo bem seguir em frente sem os sapatinhos dos seus sonhos, melhor seguir descalça do que com pés machucados.