Psicóloga Jéssica Horácio
Psicoteraputa Corporal e Tanatóloga
Dos vários aprendizados que eu adquiri até o momento ao atuar na área clinica, um deles tem me chamado bastante a atenção devido os desdobramentos dele, é sobre o fato de que cada ser humano possui um limite particular para tolerar desconfortos.
A verdade é que aquilo que é extremamente desconfortável para mim pode ser agradável e até mesmo indiferente para você. E mais, ainda que eu esteja inserida em um contexto de dor emocional, poderei permanecer nele por dias ou meses ou até mesmo anos; suportando, tolerando, aguentando, enquanto você embora também sentindo grande desconforto nesta ou em uma outra situação, poderá se retirar dela imediatamente. Significa então que eu gosto de estar nesta situação desconfortável e você não? Não necessariamente. Mas pode significar que é necessário que eu reconheça os meus limites emocionais para então respeitá-los e conseguir desta forma me retirar enquanto você já tem os seus muito bem definidos e respeitados e portanto, sabe se poupar.
Quantas vezes uma amiga sua já se queixou da relação que tinha com o chefe? Mas ela lá naquele emprego permaneceu embora tivesse outras oportunidades profissionais. Quantas vezes você já se queixou daquela relação amorosa mas que de amorosa não tinha nada, mas nela permaneceu? Neste cenário os conselhos justificam a sua pequenez uma vez que não adianta aconselhar criando a expectativa de que este conselho irá gerar uma mudança na vida de quem se queixa, enquanto a pessoa não chegar ao reconhecimento do seu próprio limite, permanecerá lá naquele contexto que a incomoda mas não tanto a ponto de se retirar.
O ser humano não é tão simplista como algumas pessoas que tem uma tendência à rigidez emocional pensam que é. Quando se trata da mente humana 1+1 nem sempre equivale a 2. Parece fácil, mas na pratica não funciona bem assim. Existe um emaranhado emocional, como se fosse um novelo de lã imenso e cheio de nós dentro de cada um, e para romper com cada nó é necessário saber onde está a ponta do novelo. E às vezes, mesmo encontrando a ponta da linha, nós ainda resistimos em desfazer o nó que é a causa de toda uma desordem no novelo, ou melhor, na vida. O que me faz pensar em uma pergunta: você confia naquilo que sente?
Perceba que este assunto não está somente relacionado ao modo como cada um lida com o desconforto mas também se nós nos permitimos acreditar no nosso direito de sentirmos desconforto e por isso então nos retirarmos da situação. Uma coisa é você reconhecer a dor emocional, outra é você acreditar que poderá suportar só mais um pouquinho e uma não exclui necessariamente a outra.
Tão importante quanto se dar o direito de sentir é se dar o direito de se afastar. Ambos tem uma íntima relação com as crenças que construímos sobre quem devemos ser e sobre a desconexão que temos com quem de fato somos. Por isso se faz tão importante o autoconhecimento pois é através dele que aprenderemos sobre os mitos que introjetamos e que oferecem riscos para a nossa saúde mental.
Me conta, o que você faz com aquilo que sente?