Psicóloga Jéssica Horácio – CRP 12/14394
Psicoterapeuta Corporal e Tanatóloga
Tem escolhas que são muito cruéis com a nossa realidade, já percebeu? Temos comida na mesa, cobertores quentinhos, roupas confortáveis… Mas às vezes lá estamos nós passando frio, sentindo fome, desconforto, dor. E não estou falando sobre fazermos essas escolhas conscientemente mas sobre o nosso inconsciente contribuir para que estas situações façam parte do nosso dia a dia.
Não é raro alguém procurar a psicoterapia para conseguir entender o porque de sua vida ser tão difícil: “Eu tenho tudo mas ainda assim tudo dá errado pra mim!”, “Eu não entendo porque tudo o que eu faço envolve tanto sofrimento”, “Eu fico com medo quando tudo está bem porque sei que logo algo ruim vai acontecer”…
O interessante é que estes relatos sobre as dificuldades sempre vem acompanhados de uma palavra de orgulho e de admiração: “Tudo o que é difícil é mais valorizado”, “Eu sou quem sou por causa das dificuldades pelas quais passei”, “A gente só valoriza a vida quando passa pelas dificuldades”… É contraditório porque por mais que a pessoa queira se libertar das sucessivas dificuldades que a acompanham, ela também se enaltece por viver essas dificuldades. Então como poderemos eliminar um padrão existencial se ainda nos beneficiamos deste padrão?
Se tratando deste contexto, a vida profissional geralmente traz consigo um cenário de dificuldades e até mesmo de sofrimento onde existem situações envolvendo humilhação, impotência, e até mesmo assédio moral. E mesmo que o emprego seja bom, a pessoa inconscientemente encontrará alguma forma de boicotar o seu bem estar e se colocará em alguma posição que exige muito de si, por exemplo.
Se você até aqui você se indentificou com este texto, então responda as duas perguntas a seguir:
- o seu jeito de trabalhar precisa ser difícil para ser considerado importante?
- O que você faz e a forma com a qual você vive precisam doer para você sentir que merece reconhecimento e valorização?
Bem, se as respostas foram “SIM” é porque provavelmente você está reproduzindo alguma crença que existe dentro do seu sistema familiar, ou seja, passar por sucessivas dificuldades e sofrimentos foi a forma que você encontrou para se valorizar uma vez que inconscientemente percebeu que algum membro da sua família se beneficiava desta forma de viver. Logo, uma vida sofrida é aquela que faz sentido para você.
Todos os seres humanos querem se sentir pertencentes a algum grupo ou sistema, só que às vezes a forma que nós encontramos para pertencer é adotando papéis que não combinam com quem somos e até mesmo se colocando em situações envolvendo algum tipo de sofrimento.
Então, se você percebe que as dificuldades te acompanham incessantemente, te convido a observar quais os ganhos secundários que você tem em viver todas estas dificuldades. É fato que não temos controle sobre tudo, mas temos sobre algumas coisas e é este controle parcial que nos ajuda a amenizar as adversidades da vida. Mas para isso ele precisa ser utilizado a nosso favor e não para reforçar o nosso papel de sofredora ou de sofredor.
Existem outras formas mais saudáveis de receber reconhecimento, de se valorizar e também de pertencer à algum sistema, quem sabe esteja na hora de você descobrir que dor e amor não precisam estar necessariamente associados.