Da E.E.B. Waldemar Casadrande, no Bairro Ouro Negro, o exemplo de esforço e dedicação de uma professora, que engajada com as famílias, tem conseguido educar seus alunos, mesmo à distância.
Em meio a tantas incertezas ocasionadas pela pandemia de um vírus desconhecido em pleno 2020, como fazer com que nossas crianças aprendam? Sem a rotina diária de ir para a escola, receber os ensinamentos escritos no quadro e ter o compromisso com a tarefa para o dia seguinte? Assim como todos, o meio escolar também precisou se reinventar, buscando formas diferenciadas de chamar a atenção dos alunos, que em sua maioria não estavam acostumados ao ensino totalmente virtual.
No início de 2020, os estudantes do 1º ano A da Escola de Educação Básica Waldemar Casagrande, no Bairro Ouro Negro, em Forquilhinha, estavam começando uma jornada de alfabetização e letramento, quando as aulas foram suspensas e a quarentena precisou ser instalada.
Justamente por isso e pensando em aproveitar todo o tempo possível para fazer com que seus alunos trilhassem os primeiros passos no aprendizado da leitura e escrita, a professora Graziela Peruch Rosso criou um projeto muito bacana, entitulado: “Turminha da Prô: Alfabetizando na Quarentena”.
Desde então, 28 famílias participam das atividades, que vão muito além das aulas obrigatórias no meio online e incluem, ainda, ensinamentos para a vida em sociedade, como a preservação do meio ambiente. “Estava preocupada com o fechamento das escolas e a perda da rotina educacional por parte das crianças. Por isso, encaminhei tarefas e orientações para os pais, buscando implementar na família o hábito de estudar ao menos 15 minutos diários com os pequenos”, conta a professora.
Além das atividades impressas, a educadora organizou um grupo de WhatsApp no qual, de segunda-feira à sábado, posta atividades, conversa com as crianças por videoconferência e presta atendimento às famílias, tudo seguindo o planejamento realizado para a sala de aula e incluindo o preenchimento diário do calendário. “Nesse mesmo período, iniciei as visitas domiciliares para entregar materiais didáticos e conhecer a realidade das famílias”, completa.
Quando as as aulas obrigatórias no meio virtual foram implantadas pela Secretaria de Educação de Forquilhinha, com objetivo de dar continuidade ao aprendizado das crianças, a professora elaborou um kit pedagógico para cada criança, com alfabeto móvel, silabário, jogo da memória, entre outras atividades, e entregou pessoalmente na residência de cada família, juntamente com orientações para o uso da plataforma online de estudos.
“Os pequenos que demonstravam dificuldades de aprendizagem passaram a receber semanalmente atividades impressas (adaptadas ou não), para facilitar o processo para as famílias e o acompanhamento dos conteúdos, e um material de suporte (cartilha de tarefas e jogos), para que pudessem reforçar o aprendizado. As crianças recebem ‘estrelinhas’, semanalmente, ao encerrarem todas as atividades, e as famílias, do mesmo modo, recebem certificados a cada meta semanal cumprida. E para finalizar, a cada 20 ou 25 dias, os pequenos são avaliados por videoconferência. É sempre um momento maravilhoso, em que avaliamos a escrita, leitura, compreensão e reconhecimento de conteúdos.”, explica a educadora.
Frutos positivos
Com tamanho esforço, os resultados vieram. No início do projeto, 90% das crianças estavam no primeiro e segundo níveis de alfabetização (pré-silábico e silábico) e, atualmente, a turminha conta com aproximadamente dois terços das crianças já escrevendo e lendo algumas palavras, frases e pequenos textos.
“Do mesmo modo, evoluíram no quesito ‘alfabetização matemática’, já realizando a contagem de numerais entre 30 e 50 e a soma e a subtração com até dois dígitos. Nos componentes curriculares geografia, história e ciências, o aprendizado da turminha se encontra entre 90 e 100% dos conteúdos trabalhados”, ressalta Graziela.
As crianças com alguma dificuldade também seguem evoluindo, cada uma em seu ritmo individual. “É um trabalho envolvente, que conta com a participação e o empenho das famílias, que são verdadeiras protagonistas do processo educacional e que, nesse momento social tão delicado, merecem destaque, valorização e admiração”, reconhece a professora.
O reconhecimento vem de casa
Com a segurança de manterem os filhos em casa, protegidos em meio à uma pandemia e, ainda assim, obtendo o aprendizado esperado para a idade, os pais dos alunos que integram a Turminha da Prô reconhecem o empenho da professora para com seus alunos.
Daiane Junkes Rocha é mãe da Nicole, de 6 anos, e garante que a iniciativa é muito especial. “Nas primeiras semanas a minha filha não sabia nem o alfabeto completo e hoje, ela escreve até o seu próprio nome sozinha. Tudo isso com nosso apoio, muita paciência e com ajuda da professora Grazi”, afirma.
Para Karina Pazini Utenski, que é mãe da Letícia, também com 6 anos, a dedicação e empenho da educadora faz com que toda a família incentive a pequena a estudar. “Não é fácil, mas estamos conseguindo fazer com que ela aprenda tudo o que está sendo passado pela professora, que além das tarefas online, sempre lança um desafio para as crianças durante a semana. A Letícia avançou bastante na alfabetização desde o início das aulas online, já consegue ler bastante e escreve muitas palavrinhas sozinha”, conta.
Há no grupo, ainda, mães que também atuam como professoras, entendem os desafios do ensinar e, muito por isso, reconhecem ainda mais o esforço da Prô Grazi. Como no caso da Anita Cardoso Machado, mãe do Afonso Machado Tiscoski, de 6 anos.
“Enquanto mãe e professora, acredito que para que o processo ensino-aprendizagem de fato transcorra com qualidade, é imprescindível o engajamento de ambas as partes (escola e família), independentemente de aulas presenciais ou à distância. Agora com a pandemia e então a quarentena, percebe-se ainda mais a importância dessa relação. É um momento de adaptação e desafio para todos e, por isso, parabenizo a professora Graziela, por todo o seu empenho e dedicação ao motivar e alfabetizar seus alunos, também os ensinando, por meio de seus projetos, a serem pensantes, cidadãos conscientes e críticos”, reforça.
Ainda que no início, muitos pais tenham ficado preocupados com a alfabetização de seus filhos ocorrendo de forma não presencial, no decorrer das semanas, o resultado positivo da Turminha da Prô engajou a todos. Como no caso da Juliana Evaldt Cardoso, que é mãe do Adriano Cardoso do Nascimento, de 7 anos.
“Gratidão é a palavra que resume, porque no decorrer das atividades fui vendo o quanto a professora Grazi é dedicada e como ela ama o que faz. Os conteúdos que ela disponibiliza para as crianças são ótimos e ainda tem o grupo onde ela posta as fotos. Mostro sempre para o meu filho e ele fica super feliz e envolvido nas atividades”, finaliza.