Depois do presidente Jaime Dal Farra, que virou hors concours na disputa de quem tem maior responsabilidade pela trágica fase do Criciúma nos últimos meses, o alvo número 1 de crítica especializada e torcida virou o elenco e a suposta falta de qualidade.
Ok, reconheço que o grupo de jogadores tem muito a ser melhorado e que devem ter existido poucos planteis piores nos últimos anos. Só que há um “porém” dentro disso tudo: a falta de conjunto.
Não bastasse a curta pré-temporada, inferior a 20 dias – período impossível de se armar uma equipe, tampouco de aprimorar fisicamente – o Tigre viu a crise se estabelecer com a precoce saída de Lisca após quatro rodadas. Grizzo, o interino, ficou mais tempo do que seria o ideal e só atrasou ainda mais os processos.
Em suma, o Criciúma perdeu dois meses que seriam fundamentais no começo da montagem do time. Argel, o novo comandante, pega a equipe no olho do furacão, tendo que “trocar o pneu com o carro andando”, como o próprio gosta de dizer.
Em meio a isso, vem a pressão em cima do elenco. Há quem diga que é um dos piores dos últimos tempos. Não gosto deste tipo de taxação. Prefiro me ater ao conjunto. Sempre acreditei que é possível fazer muito com pouco e que a era de achar que só ter bons jogadores é o suficiente para ter um bom time já passou. Se não há uma ideia por trás do que o técnico passa, não há time, não importa qual seja o material humano.
Mediante a isso, levanto alguns questionamentos sobre alguns jogadores que se veem muito contestados. Por que Barreto era titular absoluto com Roberto Cavalo, incontestável na posição, elogiado por muita gente e hoje é tão criticado? O mesmo vale com Deivid, onde, em minha visão, atingiu melhor nível desde que se profissionalizou – vale lembrar que o ex-atacante foi demitido na época em que Barreto se contundiu.
E Douglas Moreira? Por que era peça fundamental com Cavalo e titular com Deivid e Luiz Carlos Winck e hoje é contestado?
O mesmo vale para outros jogadores, e para todos eles a resposta é igual: o conjunto.
Nos casos de Barreto e Douglas, ambos estavam encaixados em equipes organizadas. Por mais que Cavalo e Deivid recebessem críticas – umas merecidas, outras nem tanto – o time tinha o mínimo de organização. Hoje, não acontece isso.
É preciso entender que o coletivo potencializa o individual. Um jogador bom em uma equipe coletivamente coesa, se torna um atleta melhor. Um jogador mediano ou ruim, tendo a ser útil quando encontra um conjunto estruturado. A lógica é totalmente inversa quando não há esse conjunto. Como esperar que um jogador não tão virtuoso seja decisivo num time desconjuntado?
“Ah, mas não dá para fazer milagre com o que tem”. Insisto: coletivamente, esse time pode jogar mais. E quando falo no coletivo, englobo vários aspectos, inclusive o físico. Quando se está desorganizado, o atleta corre mais, por consequência, cansa mais. É uma escalada negativa.
Além do mais, considero impossível cobrar demasiadamente, criticar além da conta ou, pior ainda, tachar esses jogadores de ruins ou péssimos, como muitos tem feito, se eles não são colocados dentro de um contexto coletivo favorável. E tudo que Argel planeja no Criciúma passa por essa percepção de que a resposta de muitos dos problemas dentro de campo passam pelo conjunto. Resolvendo aí, teremos a ideia do quão bom – ou ruim – é esse elenco.