Psicóloga Jéssica Horácio – CRP 12/14394
Psicoterapeuta Corporal e Tanatóloga
Eu lembro que quando ganhei meu primeiro computador eu ficava procurando palavras para abreviar e usar nas redes sociais, na época – há uns vinte ano atrás – quem sabia as gírias e abreviações do mundo tecnológico era muito descolado, óbvio que na era da internet eu também queria ser. E assim foi, trocamos o “você” por “vc”, o “também” por “tb”, ah! excluímos a pontuação dos textos também, até passamos a chamar alguns textos de “textos corridos” – vê se pode, e não é pra menos. E as poesias? Elas perderam linhas e eliminaram palavras com mais de quatro sílabas, nós diminuímos o diálogo pra acelerar a compreensão e para não “perder tempo”. A gente não se deu conta mas o “oi, tudo bem?” se tornou o novo cumprimento.
Isso não é uma crítica, é só a percepção de que temos encurtado as nossas experiências para termos mais tempo de viver mais experiências. E talvez, em meio a este processo de abreviações, temos nos desconectado uns dos outros.
Quando foi a última vez que você parou, olhou alguém nos olhos e dedicou o seu tempo e a sua escuta para realmente perguntar: “como vai você?” E qual foi a última vez que você esteve do outro lado do diálogo?
O tempo tem uma participação muito importante na construção dos vínculos afetivos, no envolvimento emocional e na capacidade de entrega. Às pressas o ser humano não se conecta, ele toca mas não sente, ele pergunta, mas não ouve.
Willhelm Reich, prercursor da psicoterapia corporal ensina que o ser humano é construção, para ele se desenvolver é necessário que ele construa relações de segurança, de elo e de intimidade, e esses construtos possuem a calma como pano de fundo.
Se tornar consciente das nossas pressas pode nos ajudar a entender pra onde estamos indo, pra quê e pra quem, pode nos fazer repensar se estamos cuidando das nossas relações através da dedicação de tempo para elas, e também se temos dedicado tempo para nos perguntar e ouvir como estamos nos sentindo.
Uma sugestão: tente não abreviar a sua relação consigo, nem encurtar o tempo que você passa na sua companhia. Talvez a vida possa ser mais do que o acúmulo de experiências, talvez ela possa ser sobre a nossa capacidade de se envolver e permanecer com calma em algumas delas.