Psicóloga Jéssica Horácio – CRP 12/14394 – e Psicoterapeuta Corporal
A infidelidade é sem dúvidas um medo frequente nos relacionamentos. Quando falamos de traição automaticamente associamos aos relacionamentos conjugais, contudo ela não acontece somente neste tipo de relação. A traição corresponde ao ato de enganar o outro: a mentira é geralmente a ação utilizada por aquele que trai. E ela é encontrada em amizades, em relações de trabalho, no convívio familiar…
Mas por que uma pessoa trai?
Cada indivíduo é único e possui sua história de vida particular: seus conflitos, suas dores, seus medos. Generalizar o motivo da infidelidade é desconsiderar a história particular que cada pessoa possui. Contudo, a partir de uma análise psicológica com enfoque psicanalítico, sabe-se que a infidelidade pode ter sua origem na infância. S
im, isso acontece quando a relação dos pais com a criança passa a ser permeada por ações que apresentam a perda do amor ou da confiança, podendo ocorrer inclusive abusos diretos ou indiretos na sexualidade infantil, passando a criança a vivenciar a experiência da traição. Tais experiências poderão ser reproduzidas ou apresentar reflexos na vida adulta.
Dependendo da fase do desenvolvimento em que ocorreu a experiência de traição, geram-se traços de caráter predominantes, e quando adulto, o indivíduo poderá ter uma fixação com relação à traição, vivenciando relacionamentos em que desempenha o papel de traído ou de traidor.
Alguns gatilhos contribuem para acessar esses conflitos internos e desencadear a reprodução do comportamento vivido na infância:
- Insatisfação pessoal: A busca por vários relacionamentos ao mesmo tempo pode indicar a presença de um ego frágil, que para não entrar em contato com a sua fragilidade, desenvolve máscaras psicológicas: “o sedutor”, “o disputado”, “o descomprometido”.
- Insatisfação conjugal: Quando a relação se desgasta (brigas, desrespeito mútuo, cobranças, imaturidade), pode contribuir para que ocorra a infidelidade. As vezes, também ocorre uma tomada de consciência de uma submissão na relação fazendo com que a parte submetida busque a sua liberdade através da traição como uma forma de dizer: “Chega!”.
- Medo de envolvimento: O medo do abandono faz com que algumas pessoas busquem várias relações superficiais e ao mesmo tempo, isso ocorre devido ao desejo de se sentirem satisfeitas mas sem correrem o risco de se envolverem e perderem o seu objeto de amor.
- Separação entre sexo e amor: Alguns indivíduos acreditam que sexo e amor fazem parte de categorias distintas, e que logo, um é independente do outro. Desta forma, ao buscarem relações sexuais extra conjugais, sem envolvimento afetivo afirmam que somente o corpo buscou satisfação, mas que os sentimentos permaneceram vinculados à pessoa “amada”.
É possível perdoar?
O perdão na psicologia possui como sinônimo a palavra empatia. Para perdoarmos alguém pelo dano causado à nós é necessário que desenvolvamos a capacidade de compreender as limitações do outro que o levaram ao ato que nos prejudicou. Quando nos sentimentos injustiçados, desrespeitados, humilhados e traídos, automaticamente fazemos contato com todas as outras vezes em que nos sentimos assim. Dessa forma o acúmulo desses sentimentos acaba gerando mágoa e supervalorizando ainda mais a situação traumática.
Porém, enquanto permanecemos com o sentimento de mágoa, desenvolveremos o papel de vítimas, e pode não parecer, mas esse papel traz vários ganhos secundários, o que nos faz mantê-los. Portanto, para perdoarmos alguém precisamos abdicar dos ganhos secundários que o papel de vítima traz e nos colocarmos no lugar do outro. Isso somente será possível quando a raiva e todo o ressentimento forem expressados.
A partir disso passamos a enxergar o outro como alguém que possui limitações e que erra (assim como nós), e deste modo verificarmos se estamos dispostos a dar outra oportunidade para a relação, ou se preferimos investir em uma outra escolha.
Saiba que você tem todo o direito de sentir as dores da infidelidade, porém, perceba se você está se fixando nessas dores ou se está disposto a dar significado para o que sente e transformar-se positivamente.