Eu não estou no meio,
Entre dois países
Eu não estou no meio,
Entre duas cidades
Eu não estou no meio
Entre duas fazendas
Eu não estou apenas no meio
Eu sou o Meio
Não sou o que afasta
Nem sou o que distancia
Não sou eu o que proíbe
Não sou quem vos amarga
Sou o que permite
Sou o que abastece
Sou o que liga
Eu não estou no meio
Eu sou o Meio
Não afasto ninguém
Não sou a profunda calmaria
Nem violenta enxurrada
Sou caminho do meio
Sou o que liga
Quem de longe vem
Ou mesmo quem de perto acena
Para quem do lado de mim
Ouve a cantilena
O suave sibilar de meu caminho
Ou o rugido após as tormentas
Me alimento da água que desce
Do céu, das montanhas e geleiras
Filtro cada gotícula em mim
Para alimentar outras vidas
Não sou manso nem violento
Apenas existo ligando extremos
Pois eu não estou no meio
Eu sou o caminho
Começo de pequenos ninhos
E abraço quilômetros inteiros
Eu avanço e retrocedo
Me espalhando devagarinho
Ou correndo e virando pedras
Eu me remodelo, seco, definho
Eu me alargo, sorrio e desabo
Eu faço o meu caminho
Eu não estou no meio
Eu sou o Meio
Quem se afasta não me conhece
Nem ouve o meu canto
De leve eu suspiro
Sou música, sou vida
Sou devaneio
Eu sou o Rio
Sou cama, casa, sou leito
Não sou fronteira
Eu sou o Meio.