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Soltar o pescoço

Jéssica Horácio de Souza

Psicóloga Jéssica Horácio – CRP 12/14394

Psicoterapeuta Corporal e Tanatóloga

Me lembro de uma paciente que toda vez que chegava no consultório com o assunto despedidas ou deixar ir, sobre liberar algo ou alguém; ela colocava as mãos no pescoço como se precisasse segurá-lo pra ele não cair. Na psicoterapia corporal o pescoço está ligado ao terceiro segmento da couraça caracterológica, e ele corresponde emocionalmente ao desejo de controle que a pessoa tem sobre a vida.

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O ser humano se constrói a partir das suas vivências familiares e sociais e quando existe um trauma que impacta na forma do ser humano se ver no mundo, ele então inconscientemente construirá no seu emocional e no seu corpo um bloqueio na tentativa de evitar fazer contato com este trauma. Bem, quando se trata do controle não é diferente. O controle é um mecanismo de defesa que visa proteger o indivíduo dos seus medos, afinal, é necessário ter sofrido uma relação de submissão e obediência intensas para precisar se proteger utilizando do controle sobre tudo.

Uma pessoa que busca ter controle sobre o maior número de coisas e pessoas possível acaba se tornando muito rígida consigo e com os outros, o que interfere na sua capacidade de ser cuidada e de amar também. Quando existe a necessidade de decidir sobre tudo, não se dá o direito de deixar que o outro escolha absolutamente nada, o que que inclusive poderia aliviar o peso do excesso de responsabilidades.

O controle é uma defesa e como tal ele não cura a dor que o originou, ele só evita que o contato com ela seja feito. A dor da submissão permanecerá até que se decida olhar para ela, às vezes ironicamente ela aparece juntamente com cansaço de ter o controle sobre tudo, é que quando a defesa é flexibilizada, o trauma pode ser visto.

Sabendo disso, eu gostaria de te convidar a perceber como estão os seus ombros e pescoço neste momento: estão soltos, relaxados, leves? Ou será que estão tensos, pesados, contraídos?

Se você os perceber tensos não significa necessariamente que você possui um traço de personalidade do tipo rígido, mas significa que você está utilizando o seu corpo para amortecer questões emocionais das quais você sente dificuldade de lidar, e que essa defesa a longo prazo pode ser prejudicial a ponto de não permitir que você faça contato com o alívio, com a entrega e o prazer. Afinal, a entrega afetiva só se torna possível quando soltamos o pescoço, é neste movimento que a gargalhada surge e que o prazer é alcançado.

Então eu te fazer uma última pergunta: qual foi a última vez que você deu uma gargalhada de doer a barriga? Controle enquanto defesa emocional e prazer enquanto uma reação natural não combinam, o mecanismo que liga um, desliga o outro.

Por isso, se conhecer é tão importante, é através do autoconhecimento que podemos perceber como nosso corpo está e quais as mensagens que ele está nos passando, além de também percebermos as nossas reais dificuldades podendo literalmente deixar ir gradativamente as defesas inconscientes que construímos.

Experimente conhecer a vida com o pescoço mais solto e com o peito aberto, o prazer só chega quando você está pronto para recebê-lo, identificar o que te prende pode ser o começo do processo.


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