Avaliação é da responsável pela Vigilância Epidemiológica, Gisele Scandolara Bosa, que faz desbafo pedindo mais colaboração da população.
Com mais de 300 casos da Covid-19 confirmados – exatamente 312 de acordo com último boletim divulgado pela Vigilância Epidemiológica nesta quinta-feira, 23 -, Forquilhinha enfrenta o momento considerado mais caótico no enfrentamento ao novo coronavírus.
Só no Centro de Triagem, já foram realizados mais de 800 testes rápidos, além dos diagnósticos de casos confirmados que a Secretaria de Saúde tem recebido dos laboratórios privados e hospitais.
Conforme a enfermeira responsável pela Vigilância Epidemiológica de Forquilhinha, Gisele Scandolara Bosa, a situação atual do município pode ser classificada como a mais caótica até o momento. “Estamos enfrentando o pior período desde que iniciou a pandemia, o número de casos não para de aumentar, chegou o momento em que tudo o que falamos até então faz muito sentido. As pessoas desacreditaram e acharam besteira, mas agora já vemos o caos dentro dos hospitais, estamos presenciando pessoas que precisam ser transferidas para a UTI e tem que lutar para conseguir um leito, a situação é bastante preocupante”, ressalta.
Atualmente, todos os esforços e orientações são para que a população mantenha o isolamento adequado e para que as empresas levem a sério a situação e não permitam que funcionários adoecidos, ou com qualquer sintoma gripal, continuem trabalhando.
“Trabalhadores com sintoma gripal têm que ser afastados, mesmo que o empresário pense que não pode fechar, para manter o lucro. Acontece que um funcionário doente dentro da empresa vai contaminar o outro que vai contaminar o outro, e ai não para mais”, alerta a enfermeira.
A população que não leva a sério
Segundo Gisele, uma das partes mais complicadas do dia-a-dia de combate à pandemia é a necessidade de lidar com a população, que não respeita as regras de distanciamento social e não leva a sério o real perigo do vírus. “É bem difícil lidar com a inconsequência das pessoas, que não se sensibilizam com o momento que estamos vivendo”, avalia.
Para a enfermeira, há muitas atitudes que podem ser evitadas neste momento. “Vemos pessoas indo à igreja, por exemplo. Claro que é importante manter a religiosidade e ter uma crença, mas não necessariamente precisa ir até o espaço físico, o que acaba se tornando mais uma forma de se contaminar e contaminar outras pessoas. É um momento muito delicado, em que infelizmente a ação de um pode ser maléfica para o outro. Eu não consigo me proteger 100% sozinha, preciso contar com a colaboração de todos para me proteger também”, argumenta.
A responsabilidade compartilhada
Neste cenário, muitos ainda atribuem a responsabilidade do combate ao novo coronavírus apenas ao poder público, sem creditar a si mesmo parte do esforço necessário para vencer a Covid-19. “O mais complicado é que a população sempre acaba colocando a culpa no sistema de saúde, no SUS, no prefeito, no secretário de Saúde, na Vigilância Epidemiológica, mas não se dá conta que a culpa é de cada um que não faz a sua parte”, afirma Gisele.
“Claro que o setor público tem sua responsabilidade, precisa disponibilizar atendimento, mas cada um deve fazer um pouco também, para evitar a rápida transmissão do vírus. É só assim que vamos vencer, afinal de contas não estamos falando de uma doença banal, mas sim de uma pandemia que já deixou estragos em vários países do mundo. É inaceitável como algumas pessoas ainda se comportam”, completa.
A situação acaba impactando, também, em outros setores da sociedade. “A polícia, ao invés de estar reforçando a segurança do município, tem precisado ir atrás de fechar estabelecimentos que não cumprem as regras, de acabar com festas clandestinas que estão acontecendo. Mesmo com o tudo que a gente fala há tanto tempo, desde março repetindo a mesma coisa, falta de informação não é”, analisa a enfermeira.
Com isso, a superlotação no sistema de saúde já é uma realidade. Os hospitais do Sul catarinense estão com ocupação máxima, afogados de pacientes. “E os profissionais tentando dar o máximo, exaustos, tendo que trabalhar incansavelmente pra salvar vidas. E não só nos hospitais, o Centro de Triagem também está superando o número de atendimentos diariamente”, elenca.
“Por isso que é bastante triste e desanimador, ao mesmo tempo que a gente quer acreditar no ser humano e que existe solidariedade e consciência coletiva, vêm essas situações, esse desrespeito e falta de educação, compromentimento e empatia, pessoas que não querem entender o problema, só pensam em criticar. São essas pessoas de mente pequena, que ainda precisam aprender muito. E isso tudo só mostra que estamos muito longe de sermos uma sociedade civilizada que se preocupa com o próximo. No fim, é muito egoísmo”, finaliza Gisele.