Psicóloga Jéssica Horácio – CRP 12/14394
Psicoterapeuta Corporal e Tanatóloga
Num momento em que temos nos exigido viver como se fôssemos robôs, assumir o que sentimos é ainda a única forma de nos trazer para a realidade e nos mostrar que somos humanos. “sinto muito” não deveria ser somente uma forma de se desculpar, mas também e quem sabe a maior forma de nos conectar com a nossa dimensão emocional. Durante este ano que passou a ansiedade patológica se tornou um imperativo, pessoas correndo literalmente para dar conta de prazos, realizar fechamentos, fazer aquisições, organizar a casa, o trabalho, a imagem… E ufa! Aqui estamos nós em mais um fim de ano, esperando pelo descanso merecido e pela possibilidade de se desligar daquilo que nos deixou extremamente e patologicamente ligados durante estes 365 dias.
Ficar ligado é bom, afinal, vivemos em sociedade e precisamos nos adaptar à algumas possibilidades que ela (que também somos nós) nos coloca. É importante trabalhar uma vez que o sentimento de utilidade tem participação ativa na construção de uma autoestima saudável. É importante conquistar objetivos, até porque eles nos possibilitam saber pra onde estamos caminhando.
É igualmente importante ter compromissos e condicionamentos, são eles que contribuem para o nosso desenvolvimento enquanto seres adultos. Mas sabe aquele velho ditado que diz que tudo o que é demais enjoa? Então… Ele pode ser aplicado aqui, talvez a palavra certa para este ditado neste caso não seja “enjoa” mas sim “adoece”. Viver exclusivamente para a produtividade é um sintoma da dificuldade de viver para outras coisas além do trabalho, o mesmo se refere a viver exclusivamente para a manutenção de uma imagem ou de uma condição social. E todo sintoma gera sintoma: cansaço, estresse, desânimo, pânico, são alguns deles.
Então, desejo que em 2020 a gente não precise parar a nossa produtividade porque a usamos em excesso em 2019, mas que consigamos ser mais fluidos e flexíveis, mesclando trabalho, lazer, descanso, relacionamentos, aquisições, preguiça… Que neste próximo ano façamos das palavras “sinto muito” um lembrete para a nossa condição humana, que é oposta às máquinas, por exemplo. E que a busca pela saúde mental seja tão ou mais importante que qualquer outra busca.
Que sejamos mais gentis com o nosso corpo, mais empáticos com as nossas dores, mais compreensivos com as nossas limitações, e mais acolhedores com a nossa condição humana, que pode ser muito bonita se a aceitarmos e deixarmos que ela nos mostre o que nos diferencia dos computadores e das máquinas em geral.