Psicóloga Jéssica Horácio – CRP12/14394 – Psicoterapeuta Corporal
Você já parou pra observar qual seu maior medo? Há quem tenha medo da perda e então passa a desenvolver uma ansiedade intensa diante das próprias conquistas, e isso ocorre em todas as áreas da sua vida. Por exemplo, se um indivíduo tem medo da perda, poderá se culpar quando gastar além do seu orçamento, e/ou ficará esperando uma data especial para usar algo que comprou, terá ciúmes de tudo o que conquista… Independente do medo: perda, abandono, rejeição, traição, humilhação, escassez…, se você sente que o pior pode acontecer a qualquer momento e na tentativa de evitar este medo começa a controlar tudo o que considera uma ameaça em potencial, cabe fazer esta leitura.
Wilhelm Reich, psicólogo austriáco desenvolveu a partir da psicanálise, uma teoria que compreende o ser humano através de estruturas de personalidade. Estas estruturas são construídas através dos conflitos emocionais do indivíduo que tomarão a forma de uma rigidez emocional e corporal. Quanto maior o comprometimento emocional, menor será a espontaneidade do indivíduo. Então, existe uma estrutura de personalidade que funciona exatamente como o exemplo acima: se responsabiliza por tudo o que acontece e pelo o que não acontece também. São indivíduos que exigem de si o controle de tudo, inclusive do incontrolável. Eles são conhecidos por rígidos ou, controladores.
O medo de se depararem com desorganização, desestruturação, ou até mesmo com algo que foge do que estabelecem como seguro, faz com que essas pessoas se dediquem exclusivamente a serem e estarem “perfeitas” em todas as áreas da sua vida e nas dos outros com quem se relacionam também. As consequências desse padrão existencial culmina em quadros patológicos severos.
Imagine-se tentando controlar o seu próprio horário, as ruas pelas quais dirigir para evitar transtornos, o trânsito para que não tenha atraso em seus compromissos… Agora junte à isso o fato de que a realidade nem sempre consegue nos fornecer todas as condições que a nossa idealização pede. Ás vezes o relógio falhará, o pneu do carro irá furar e as estradas estarão em obras. Se as adversidades não forem assumidas como pertencentes a realidade, o sofrimento em torno delas será intenso. O resultado é tanto no corpo quanto na mente do indivíduo a instalação de uma intensa frustração, irritabilidade (a famosa raiva do mundo), cansaço e desânimo, além de uma negação com relação as adversidades, este indivíduo dará “murros em ponta de faca”.
Isto acontece em pessoas que tiveram uma severa repressão numa fase do desenvolvimento psicoemocional ligada à descobertas, autonomia e liberdade. Provavelmente fora repreendida quando buscava satisfazer a sua curiosidade de se experimentar, logo passou a acreditar que para viver precisa seguir protocolos e regras constantemente. Pais que passam a ideia de que tudo sabem também contribuem para a construção da ideia de que o filho também tudo deverá saber quando for adulto. O medo da punição ainda acompanha alguns indivíduos, e por isso não se permitem quebrar regras que elas mesmas estabelecem como “corretas”.
A pessoa vive os medos somente na sua mente e nem percebe que a sua realidade por si só já está tão dolorosa quanto o que a sua própria mente criou acerca da idealização de sofrimento.
Para lidar com esta cobrança excessiva tanto consigo quanto com o mundo, invista seu tempo e dedicação em descobrir qual a origem deste medo que boicota a sua aceitação da realidade. Diminuir a ideia egoica de que se tem a solução para tudo, embora seja doloroso facilita o processo de aceitar aquilo que o outro fornece mesmo que não seja como se queria. Outro ponto importante é aprender a ouvir e perceber os próprios limites, eles tem a função de mostrar que nem sempre temos condições reais de fazer aquilo que idealizamos, então, ajustar o nosso desejo à nossa realidade é uma maneira de tirar de si o peso de ser “perfeito”.
Procure ser mais tolerante consigo, aprecie sua capacidade de lidar com as adversidades ao invés de se valorizar somente quando você consegue satisfazer uma idealização.