Às vezes num sonho encontramos palavras perdidas de nossos vocabulários individuais. Outras vezes nos perdemos em lugares conhecidos sem nunca relembrar ao certo onde é. Ou onde foi. Ou, talvez, onde será.
Minha amada companheira tem esse costume – de me amar tanto quanto a amo – mas de recordar lugares que visitamos pela primeira vez. Me encuca toda vida. Ela sempre já sonhou com aquele lugar, ou aquele outro. Por minha vez só tenho a contemplação inicial.
Viver esse mundo digitalizado é ter essa noção de conhecer lugares que nunca se conhece de verdade. O primeiro contato deixa de ser uma surpresa, uma descoberta. A primeira vez converte-se numa confirmação apenas. Tudo que se vê no agora já fora conferido antes em alguma tela por todos os ângulos possíveis.
Prefiro minha amada, porque a amo e dela recebo amor. Prefiro ainda sua sensação de surpresa de lembrar daquilo que “nunca viu”. É sempre a primeira vez mais autêntica, uma primeira vez mais “primordial”. Para outros, como eu, resta esquecer a confirmação daquilo que já se sabe pelo mundo virtual.
Logo, me escapo das fotografias costumeiras e procuro novos ângulos. Evito ser mera confirmação, duvido do que lembro. Tento ao menos ver um lugar novo, um mundo tão novo que cresce ainda mais com cada novo ponto de vista. Assim como num sonho repetido, me permito perder-me no olhar.