Psicóloga Jéssica Horácio – CRP 12/14394 – Psicoterapeuta Corporal
Você tem um carro que lhe foi útil em vários momentos, porém de repente, aparece a oportunidade de trocá-lo por um outro que parece atender melhor as suas necessidades atuais. Você fecha o negócio verbalmente, dá a sua palavra para o negociador até que… Voltando para casa para pegar os documentos do veículo você avista em uma concessionária uma oportunidade de troca aparentemente muito mais vantajosa para você do que aquela que acabara de fazer. Então, você entra na concessionária para lançar a sua proposta e fazer novo negócio ou, retorna para a sua casa para pegar os documentos e finalizar formalmente a primeira negociação?
Esta pergunta lança outros questionamentos acerca da forma como o ser humano está lidando com a sua liberdade, como por exemplo: Será que estamos nos responsabilizando por aquilo que manifestamos para as pessoas? Será que temos aprendido a lidar com frustrações? Será que ao desejar sempre o “melhor” estamos nos apropriando de algo ou simplesmente substituindo este algo? O texto abaixo tem o intuito de refletir sobre o primeiro questionamento: Estamos assumindo a nossa responsabilidade por aquilo que manifestamos?
Quando nos expressamos com alguém construímos uma rede chamada comunicação, é através dela que os envolvidos darão sentido às nossas expressões. Isto não significa que somos unicamente responsáveis pelo o que o outro compreende, mas sim que temos contribuição naquilo que ele sente a respeito do que manifestamos. Somos humanos e temos como direito desejar, contudo, por estarmos em sociedade, é necessário que avaliemos se nossos desejos não implicarão negativamente sobre àqueles que estão vinculados à nós, é importante que a responsabilidade sobre os nossos desejos seja assumida. Este exercício de empatia pode ser feito sempre que um desejo estiver relacionado a qualquer outro indivíduo. Isso se chama Responsabilidade afetiva que diz respeito a quando nos responsabilizamos pelas expectativas que alimentamos no outro, ou seja, quando assumimos a nossa participação naquilo que o outro construiu acerca do que manifestamos.
Nos afastando da hipótese de uma aquisição de bens e nos aproximando dos relacionamentos, vemos de que modo a comunicação está atrelada à responsabilidade afetiva. Ser responsável afetivamente é tratar com respeito os próprios sentimentos e os dos demais com quem se relaciona. Respeitar os sentimentos significa identificar tudo aquilo que se sente e por conta disso, agir de acordo com eles. É desta forma que as pessoas envolvidas terão a oportunidade de saber quem somos e o que queremos.
Se você está conhecendo alguém mas percebe que tem dificuldade em se vincular a somente uma pessoa devido as suas questões pessoais, é importante que a responsabilidade sobre os seus afetos e o do outro sejam considerados e respeitados. É então que se estabelece a comunicação empática. Você não precisa fazer o que não quer independente do motivo, mas é fundamental que seja honesto consigo e com quem está envolvido com você. O autoconhecimento facilita este processo de se tornar responsável, afinal, quando sabemos como funcionamos, conseguimos mostrar para as pessoas espontaneamente nossas características, ou, avisá-las sobre nosso funcionamento.
Agindo assim, nos tornaremos mais cuidadosos com aquilo que expressamos e promovemos no outro e em nosso contexto social. Você não precisa cumprir o que prometeu, mudar de desejo pode ser uma característica sua que ainda não fora elaborada de forma saudável, ou ainda, pode ser que você tenha ressignificado seus sentimentos e não queira mais o que achou que pudesse querer. A responsabilidade afetiva diz respeito a assumir a mudança do desejo não somente para si mas para aqueles que de algum modo estão envolvidos no seu querer do “passado”.
Então, perceba se você está assumindo a sua participação naquele conflito, na expectativa do amigo, na frustração da namorada… Reconhecer as suas limitações e pedir desculpas pelos equívocos também é uma forma de ser adulto e assumir a responsabilidade pelo dano causado.