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O que as tragédias nos ensinam?

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Nada! É, às vezes é o que pensamos e é justamente o que somos levados a pensar quando vemos as diversas tragédias que assolam nosso planeta aqui, ali ou lá. Tragédias que poderiam ser evitadas, talvez, mas, na maioria dos casos, ao menos, minimizadas. Enfim, fica a pergunta título em aberto.

A recente tragédia ocorrida em solo gaúcho envolve muitos sentimentos que precisamos refletir, pois, da revolta à comoção, existe o que podemos fazer de imediato e o que podemos planejar a partir daquilo tudo que vimos acontecer, inclusive com nossos próprios sentimentos sobre isso. Aliás, o que podemos aprender com nossos sentimentos em relação à toda e quaisquer tragédias é de suma importância para nossas ações. Nesse caso, recorrer à nossa memória se faz necessário.

Quando a Guerra do Golfo aconteceu no início dos anos 1990 eu era um menino que brincava com meus bonecos de guerra entre si. Porém, ao ver as imagens da guerra nos telejornais, um sentimento nascia dentro de mim. Eu já era uma criança que lia bastante, de livros a quadrinhos, e gostava muito de filmes. Ver aquelas cenas me impactava e isso me forçou parar de brincar de “guerrinha” entre os meus bonecos. Eu não sabia ao certo na época, mas via algo errado ali nas minhas brincadeiras de guerra enquanto crianças e adultos morriam de verdade.

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Com a ascensão da internet e sua popularização, muitas informações, muitas ideias, muitos conceitos e muito conhecimento vieram à tona. Infelizmente, concomitante a tudo isso, tivemos a ascensão também das teorias conspiratórias, das notícias falsas e a disseminação de várias inverdades de todos os tipos. Particularmente podemos tomar o ano de 2013 como um ponto de referência e crescimento de tantas “verdades” tidas como mentiras e tantas “mentiras” tidas como verdades. O aumento expressivo das redes sociais e a comunicabilidade avançada propiciada por aplicativos direcionados de comunicação digital alavancaram ainda mais o acesso às informações. Ter acesso à informação não significa necessariamente ter acesso ao conhecimento.

Voltando à memória, é interessante pensar em quantas tragédias ocorreram em solo brasileiro e evocar nossos sentimentos sobre isso é uma forma de refletir sobre como esses mesmos sentimentos variam de época e lugar. Na primeira década desse século era comum minha rua alagar com qualquer chuva, causando transtornos à minha família. Certa vez isso aconteceu na virada do ano e ligamos ao prefeito que nos disse que nada poderia fazer naquele momento! Era dia 31 de dezembro e estávamos alagados e a autoridade máxima do município nada podia fazer. Senti-me um nada qualquer…

Diversas outras situações continuaram a acontecer, seja em Santa Catarina ou outros estados e a internet estava lá, povoada de informações e julgamentos. Um desses julgamentos que mais me incomodou foi justamente quando o Rio de Janeiro passava por uma situação caótica em 2011 com diversos desmoronamentos que ceifaram dezenas de vidas, atingindo pobres e ricos, contudo, um rapaz comentava no Youtube: “Quem manda construírem suas casas às margens dos rios?!” É, pessoas pobres que muitas vezes constroem apenas onde podem. Ele continuava seu comentário preconceituoso orgulhando-se de sua bem construída e turística cidade aqui no Sul. Como dizem, a língua não tem osso e a cidade por ele citada está em calamidade, o que ilustra algo importante para pensarmos em toda e qualquer tragédia: nossa responsabilidade com NOSSA CASA EM COMUM, o planeta Terra!

Há mais de cinquenta anos cientistas diversos vêm nos alertando sobre os problemas causados ao nosso planeta pela ação humana, mesmo assim, todo e qualquer comentário acerca do meio ambiente já é motivo para ser caracterizado como “lá vem o ecochato!” E lá vamos nós novamente ouvir os “especialistas da internet” fortemente amparados por uma imensa quantidade de teorias, da terra plana às antivacinas, vociferarem em seus comentários nas postagens diversas das redes sociais o quanto esse governo ou aquele tem culpa, culpabilidade essa que pouco ou nada ajuda no enfrentamento de uma situação caótica! Principalmente quando polariza-se ainda mais um fato natural que tem em si também as mãos da civilização humana!

Secas severas, chuvas torrenciais, vendavais que se tornaram corriqueiros, acidentes de trânsito em estradas cada vez mais precárias com motoristas pouco preparados e veículos defasados; tráfico de drogas, de influência, desvios de verbas públicas em todas as esferas, em todos os estados da federação, em cada pequeno município; xenofobia, crimes de ódio e preconceito de todos os tipos, brigas de torcidas, assassinatos por questões minúsculas, ódio disseminado contra toda e qualquer pessoa ou categoria que pense diferente da minha visão de mundo… É realmente é o fim dos tempos e faz tempo…

Aliás, a cada tragédia parece crescer o número de pessoas que anseiam pelo fim a todo custo, inclusive se utilizando de artifícios da fé e crendices populares para arrebanhar mais devotos à doutrina apocalíptica da humanidade! Realmente, tendemos ao fim, entretanto, não por mãos divinas, mas sim por conta de nossos próprios crimes contra nossa espécie e todas as outras que povoam esse planeta.

Não há poucas palavras quando vivenciamos uma situação de tragédia tão grande quanto agora. Pensei comigo muito antes de escrever sobre, pois são nesses momentos que o sensacionalismo midiático se torna mais evidente, conforme vemos nas redes sociais. Fico me questionando se escrever sobre isso não se configura em uma forma de se aproveitar erroneamente do ocorrido. Ao mesmo tempo, ver tantos julgamentos indigna tanta gente e o mundo não para! Algumas ações podem e são canceladas enquanto outras continuam a acontecer, não interessa se é uma guerra longe daqui ou um tsunami, catastrófico, você para? No máximo dedicamos nossas orações e súplicas.

Esse é um momento de união, como em tantas outras ocasiões somos convocados a estender nossas mãos em apoio aos que mais necessitam. E nesse momento, jogar pedras não vai ajudar ninguém. Melhor será utilizar essas pedras para a reconstrução mais forte do amanhã, quem sabe um amanhã mais solidário, mais fraterno e menos individualista, menos egocêntrico. Um amanhã no qual haja menos exploração do solo, da fauna, dos rios e florestas, um amanhã mais inclusivo e no qual possamos saber respeitar diferenças.

Hoje doamos o que temos e o que não temos para quem precisa. Hoje devemos utilizar nosso senso de solidariedade e compaixão. Depois devemos usar esse mesmo senso para planejar melhor os próximos passos de nossa civilização, pois a natureza está a agir desde sempre. Ou aprendemos a navegar juntos e enfrentamos a tempestade, ou afundaremos todos. Pode até parecer piegas o que aqui está escrito, de tanto que já foi dito e continua sendo elucidado diariamente. Talvez nossa teimosia nos proíba de ver nossos próprios erros e, na boa, melhor apontar o dedo para o outro, não é mesmo?


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