Psicóloga Jéssica Horácio CRP 12/14394 – Psicoterapeuta Corporal e Tanatóloga
Eu poderia sintetizar este texto utilizando a metáfora do copo: há pessoas que o vêem meio cheio, outras, meio vazio. O que muda não é objeto observado, mas sim a forma como se observa.
É duvidoso pensar que alguém goste de ser pessimista, que obtenha prazer e até mesmo qualidade de vida vendo a vida sob a ótica da negatividade, do menos, da escassez. É interessante porque atualmente os livros de autoajuda são os mais vendidos no mercado, mas são também aqueles que após lidos geralmente vão parar em uma gaveta e ficam completamente esquecidos.
Não é porque eles não oferecem bons conteúdos, mas é porque eles funcionam para quem já tem a tendência em olhar a vida pelo prisma do otimismo. Quem desconhece esse jeito de viver poderá até se esforçar para seguir as tarefas que os livros sugerem, mas terão que lutar contra seus monstros internos que os pede constantemente para continuar vendo o copo meio vazio.
As pessoas que trazem este olhar pesado e até mesmo preto e branco sobre a vida possuem um caso íntimo com o perfeccionismo. Qual a relação? Quanto mais metódicas e exigentes consigo, maior a tendência em verem defeitos em si e no mundo.
Geralmente elas só se darão conta do quão doloroso é o próprio funcionamento quando receberem críticas: “Você é uma pessoa amarga”, “…ranzinza, amargurada”, “…está sempre de cara fechada, insatisfeita, emburrada”. E também quando se compararem a outras pessoas que demonstram maior flexibilidade e gratidão para com a vida, aí se questionarão: “o que há de errado comigo?”
Como aprenderam desde muito cedo a serem perfeitas, acreditam que a busca pela perfeição é o único jeito de viver. Porém não se dão conta que o problema não está nas imperfeições que a vida apresenta, mas sim na busca delas por este ideal.
É interessante porque a sociedade capitalista reforça este padrão de perfeição, e contraditório porque esta mesma sociedade cultua através da arte, lugares e personagens aquilo que foge do padrão. A Torre de Pisa é um exemplo, milhares de pessoas visitam anualmente a torre torta na Itália para vê-la, tirar foto com ela; não muito longe temos em Gramado – RS, a famosa Rua torta que atrai centenas de turistas diariamente. Lady Gaga também representa este ponto fora da curva, uma cantora que faz do seu corpo uma tela para aquilo que quer representar rejeitando os padrões estereotipados para a sua profissão. Ou seja, parece que nós precisamos cultuar o que é imperfeito para mantermos a ilusão de que somos perfeitos.
As consequências disso são dolorosas do ponto de vista emocional: não reconhecemos os nossos limites, nos frustramos com muita facilidade, resistimos a mudanças, rejeitamos as adaptações, ficamos irritadiços quando algo não dá certo como idealizamos, não desenvolvemos resiliência, nos tornamos pessoas “emburradas”.
E é necessário se dar conta dos prejuízos individuais que a ação de ver o copo meio vazio traz, é preciso identificar a dor da própria imperfeição para aprender a lidar com ela.
Então eu te lanço alguns desafios de autoconhecimento:
- Se olhe no espelho e perceba como você costuma se enxergar (com críticas ou com elogios);
- Reflita: quando você não consegue conquistar algo que quer, o que passa pela sua mente a seu respeito?
- Quando alguém próximo te presenteia, você se sente grato por isso ou acha que a pessoa não fez que a obrigação dela?
A psicoterapia provoca questionamentos fundamentais para que a tomada de consciência ocorra, mas sobretudo, ela oferece suporte para que o indivíduo faça contato com a dor de nunca ter sido considerado bom o suficiente. É através deste processo interno que a mudança real ocorre. Procure um psicólogo.