“Deivid foi uma ótima aposta do Criciúma”
“Deivid foi uma péssima escolha do Criciúma”
O que as duas frases estampadas acima possuem em comum? Ambas são precipitadas quanto a análise do novo técnico do Tigre para a temporada 2017. Aliás, qualquer avaliação envolvendo o ex-atacante é precoce por uma só razão: a única experiência de Deivid como técnico foi meteórica.
Depois de um período como auxiliar de Vanderlei Luxemburgo e Mano Menezes, Deivid comandou o Cruzeiro por apenas quatro meses em 2016. Foram 12 vitórias, cinco empates e duas derrotas em 19 jogos pela Raposa, obtendo 71,93%. Nos números, o trabalho foi bom, apesar das eliminações precoces no Campeonato Mineiro e na Copa da Primeira Liga. Entretanto, o futebol apresentado e a falta de sequência ao trabalho anterior de Mano Menezes pesaram para a demissão.
Desculpem-me quem já cravou se foi ou não uma boa escolha, mas é impossível julgar um trabalho e, principalmente, traçar o perfil de um treinador e a forma como articula suas equipes em apenas quatro meses – ou em menos de 20 jogos. É cedo e injusto com o profissional. Nesta hora, é preciso ver o contexto, entender a situação e ver como Deivid se encaixa no cenário tricolor.
O que pesa a favor da contratação do treinador é a juventude e as novas metodologias que pretende implantar. Desde que deixou o Cruzeiro, passou por clubes europeus, como Real Madrid (Espanha), Lyon (França) e Fenerbahçe (Turquia), observou formas de treinamento e aprimorou os conhecimentos. Por ser novo na função, ainda não tem os vícios que muitos outros treinadores possuem – vícios esses que foram fatais para o fracasso de seu antecessor, Roberto Cavalo.
Negativamente, porém, pesam alguns aspectos. Apesar dos bons resultados em Minas Gerais, conversando com alguns jornalistas mineiros, que acompanharam o trabalho de Deivid com mais afinco, obtive análises de que ele buscou implantar muitos métodos e formas de jogo diferenciadas ao mesmo tempo, o que confundia os jogadores e ele mesmo.
Além disso, pesa a inexperiência. Por mais que tenha se aposentado a pouco tempo e ainda tenha os traquejos que a chamada “boleiragem” sempre alimentou, o novo comandante carvoeiro precisa ter em mente que muitos ainda o enxergam como o “atacante Deivid” e não como o “treinador Deivid”.
É necessário que o técnico possua em sua mente a noção de que o fator “experiência” é superestimado no Criciúma, tanto pela torcida, quanto pela imprensa. Se o time vai mal, sempre surge alguém para falar da tal “inexperiência”. Fatores técnicos e táticos muitas vezes são deixados de lado na hora de analisar uma partida para que que tudo seja resumido a ausência de cancha. Esse é um dos vícios existentes na imprensa também.
É notório ainda que existe uma exigência por nomes, e não por perfis e formas de trabalho. Muitas vezes é levado mais em consideração um profissional com um currículo recheado do que um com ideias compatíveis com a realidade do clube e com capacidade para aplica-las. Outros treinadores já passaram por entraves semelhantes por aqui. Hoje acontece uma intensa procura por nomes, registros, dados e não por metodologias, comportamentos profissionais e práticas de jogo.
Juntando todos estes aspectos, fica notório o fato de que Deivid é uma incógnita. O curto trabalho que desempenhou no Cruzeiro nos impede de aprofundar qualquer análise e julgamento. Ninguém sequer sabe como o time dele pode jogar. É preciso ver no campo e nos treinamentos as ideias e notar se elas saem da cabeça e, de fato, são aplicadas.
Falar que contrata-lo foi bom ou ruim é jogar para a torcida e distorcer o cenário. A realidade que Deivid encontrou em Minas Gerais não é a mesma que encontrará aqui. As pressões, sejam elas internas ou externas, serão diferenciadas. Cabe a ele absorver estas pressões e, da mesma maneira, responder a questão se foi ou não uma boa escolha do Criciúma.