Psicóloga Jéssica Horácio – CRP 12/14394
Psicoterapeuta corporal e tanatóloga
No Brasil, é durante o carnaval que geralmente as pessoas assumem suas personagens sem culpa. No carnaval é permitido se fantasiar e ousar na caracterização, a gente pode acordar as princesas, as plebeias, os bichos e os monstros que vivem dentro de nós. E mesmo quem não usa fantasias acaba se contagiando a chamar uma segunda identidade pra acompanhá-las nas festas de carnaval. A fantasia se torna uma alegoria a mais e às vezes é até desnecessária, porque pra chamar o que estava adormecido dentro da gente basta convidar todos os desejos que ficaram reprimidos durante todo o ano.
É por isso que essa data costuma ser muito divertida, porque ela é repleta de vontades e satisfações, de prazeres e intensidades. Há muitos beijos, sexo, danças, risadas, gargalhadas, bebidas… É o momento do ano onde tudo pode: não existe horário pra dormir e nem pra acordar, cada um faz o que quer e quando quer.
Pensando bem, é sim durante o carnaval que nós usamos as fantasias reais, aquelas que contem lantejoula, brilhos e paetês, mas é durante todo o ano que nós vestimos as nossas fantasias emocionais: vestimos um sorriso forçado, colocamos uma gargalhada quando na verdade queremos explodir de raiva, usamos um figurino de independentes quando por dentro o que mais nos falta é alguém nos ajudando a dividir os pesos da vida, fingimos que não nos importamos enquanto a tristeza nos consome…
Nós usamos de personagens para mostrar uma parte de quem somos. A pergunta é: será que aquilo que vive dentro de nós ao qual damos o nome de desejos, realmente precisa vir à tona através das alegorias e máscaras de carnaval?
Mas, e se todos os dias a gente chamasse um pouquinho estes desejos? E se nós os vestíssemos mais vezes ao ano? E se a gente fizesse as pazes com eles? Talvez não cairíamos nos excessos que ocorrem no carnaval, nem precisaríamos usar uma personagem para esconder quem nós realmente somos nesta época do ano porque estaríamos tão bem resolvidos com as nossas carências que então nos autorizaríamos a ser nós mesmos o ano todo.