Psicóloga Jéssica Horácio – CRP 12/14394
Psicoterapeuta corporal e tanatóloga
Você já presenciou duas crianças brincando juntas e compartilhando uma com a outra os brinquedos que possuem? É uma experiência agradável de se ter, afinal, elas nos ensinam com muita propriedade lições sobre posse, identificação, compartilhamento… Elas podem trocar os brinquedos, uma levar para casa o brinquedo da outra, podem lutar pelo o brinquedo que elas se identificam, e no fim de tudo, o que elas desejam é ficar com aquilo que tem um significado para elas independente das expectativas que pais e mães tenham sobre as escolhas que elas deveriam fazer.
A nossa reflexão hoje não será sobre crianças, mas sobre a importância de aprendermos a separar o que é nosso daquilo que é do outro. Pra ficar mais claro, vamos conversar a respeito da nossa tendência em acreditar que aquilo que faz parte da mente do outro corresponde à nossa realidade, entende? Ou ainda, sobre vivermos tão profundamente imersas nas expectativas alheias que nem conseguimos mais reconhecer quais destas tais metas de fato são nossas.
É muito bonito para quem trabalha com psicologia clínica receber no consultório uma pessoa disposta a refletir sobre o modo como tem vivido, e o ato de refletir se torna bonito porque quando a pessoa assume que precisa ou que deseja olhar para as atitudes e emoções que a habitam, ela está dizendo para si e para o mundo que ela existe independente das expectativas que construíram sobre como ela deve viver.
E bem, não há nada mais bonito do que uma pessoa que quer dizer sim à vida e que deseja imprimir no mundo a sua própria personalidade. Não é?
Olhar para o próprio processo de fazer escolhas e refletir sobre os critérios utilizados para que tais escolhas aconteçam é um grande ato de liberdade, coragem e ousadia, afinal, pode ser muito mais fácil seguir um roteiro que traz consigo definições de como se viver. Porém, nem sempre aquilo que é fácil corresponde verdadeiramente aquilo que de fato nos toca. Existem vários sentidos a serem dados para a nossa vida, e somente em alguns casos os sentidos mais fáceis se exercerão. Você já reparou que existem estereótipos para cada idade, gênero, cor, credo, profissão…? E quantas de nós fazemos escolhas com base em tais estereótipos sem nos dar conta de que eles de fato não combinam com os nossos verdadeiros anseios?
E veja bem, estamos no mesmo barco ora porque é mais fácil seguir tais estereótipos, ora porque não acreditamos que podemos subvertê-los, ora por termos medo de lidar com o estranhamento alheio, com as consequências de mudar de rota, com o incerto.
Mas, é por isso que eu trouxe no início da nossa conversa o exemplo das crianças compartilhando brinquedos, para pensarmos na importância de se ter bem definido o que é nosso, e para não abdicarmos disso sem um motivo que nos faça com todo o nosso ser desejar abrir mão.
Então eu te convido a olhar para as novas possibilidades que existem à sua frente e se permitir entender os motivos que te fazem escolher aquilo que você escolhe. Não existe escolha errada, existe escolha sem propriedade. E quem sabe você e eu possamos assumir diariamente o nosso direito de acessarmos a vida que existe dentro de nós nos recusando a aceitar aquela vida que não tem significado algum para a nossa singular existência.
Você quer tentar? Por quê? Refletir sobre o seu desejo é uma ótima forma de começamos bem. Se cuida.