Detenção aconteceu no último dia 16 de novembro no bairro Bortolotto.
Na última semana, gerou polêmica o fato de que dois agricultores foram presos por estarem caçando capivaras em Nova Veneza, com a justificativa de que elas estariam prejudicando suas lavouras. Como é um animal silvestre, matar capivaras é considerado crime ambiental, sujeito a multa e até mesmo, prisão.
A Fundação do Meio Ambiente de Nova Veneza, inclusive, pode dar orientações de maneiras para a proteção da lavoura sem a morte do animal. “Sabemos que o número de capivaras vem crescendo na região, e que elas não possuem um predador natural. Mas caçar este tipo de animal é crime ambiental. Por isso, sugerimos que o cercamento da lavoura é a ação ideal para ser realizada neste momento”, argumenta o presidente da Fundave, Juliano Dal Molin.
Mas é justamente o cercamento, o método mais eficaz, que o agricultor Claudionir Romão, de São Bento Baixo, afirma ser inviável para o pequeno produtor. “Uma cerca para conter os animais possui um custo altíssimo, pois precisa que os arames fiquem muito próximos um dos outros, além de ter que percorrer toda área da plantação. Um valor muito alto de investimento, que acaba inviabilizando à lavoura. Nos últimos quatro anos, já gastamos aproximadamente R$ 10 mil, em sistemas para repelir os animais e a maior parte em prejuízos causados por eles,” afirmou Romão.
O biólogo, João Paulo Gava Just, explica que as capivaras se alimentam exclusivamente de plantas e assim as lavouras são uma opção a mais para estes animais. “Em Nova Veneza, por exemplo, como as margens do Mãe Luzia são geralmente bem desmatadas e as lavouras ficam muito próximas ao rio, os animais conseguem acesso às plantações com maior facilidade”, completa.
Just ainda afirma que como as capivaras podem causar estragos nas lavouras, um passo fundamental também poderia ser a realização de um estudo para descobrir quantas capivaras habitam a região e acompanhar como a sua população vem se comportando ao longo do tempo.
“Isso pode ser feito, por exemplo, em parceria entre a prefeitura e o curso de Ciências Biológicas da UNESC. Também é importante identificar junto dos agricultores as áreas onde ocorrem conflitos com capivaras. Depois disso fica mais fácil decidir se é necessário ou não algum tipo de controle e qual a melhor forma de se fazer”, alega o biólogo.
Algumas ações conhecidas e mais rápidas são a realocação dos animais ou uso de barreiras. “Mas é importante frisar que qualquer ação deve ser regulamentada e acompanhada pelo órgão ambiental competente, uma vez que apreender ou caçar animais da fauna silvestre sem autorização é proibido por lei e rende multa e prisão ao infrator”, finaliza Just.
O agricultor Ernani Gava Bortolotto, afirmou que a cada ano, o prejuízo do produtor só vem aumentando, “Algo precisa ser feito, não é nossa intenção acabar com os animais, mas precisamos encontrar um meio-termo, pois elas se reproduzem muito rápido, e a cada ano o número delas mais que dobra,” disse Ernani.
Ainda segundo o produtor, existem hoje mais de 60 capivaras vivendo entre o Centro de Nova Veneza e à comunidade de Jardim Florença.
“Antes era muito sutil a presença delas, mas depois da construção da barragem (Rio São Bento), foi nítido o aumento do número de animais em todo município” especulou o agricultor.
RISCO DE FEBRE MACULOSA
Apesar de não haver nenhum caso registrado da doença no município, o aumento da população de capivaras deve ser acompanhado com atenção pelos órgãos públicos, isso porque, além da destruição das lavouras, existe a preocupação com o carrapato que transmite a febre maculosa, doença que pode levar à morte.
Pesquisadores da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo (USP), constataram que as capivaras apresentam um importante papel na transmissão da febre maculosa. De acordo com um dos coordenadores do estudo, o professor Marcelo Bahia Labruna, esses roedores são hospedeiros amplificadores da bactéria causadora da doença, a Rickettsia rickettsii (riquétsia).
Labruna explica que essa bactéria pode ser encontrada em capivaras e em carrapatos estrela (Amblyomma cajennense) contaminados. “Quando uma capivara é infectada, ela se tornará transmissora da bactéria durante 2 a 3 semanas, período chamado de bacteremia. Se um carrapato estrela não contaminado mordê-la, ele será infectado e se tornará também um transmissor da bactéria”, informa.
“No caso das fêmeas de carrapato infectadas, ocorrerá a transmissão transovariana: os ovos ficarão contaminados e as larvas já nascerão transmissoras”, explica. A capivara é um hospedeiro habitual de carrapatos estrela: chega-se a encontrar de centenas a milhares desses parasitas em um único animal.
A febre maculosa é transmitida aos seres humanos pela picada do carrapato estrela infectado. A doença causa febre, dor muscular, cefaléia e, em 70% dos casos, manchas na pele a partir do terceiro dia após a infecção, podendo haver necrose das extremidades e, nos casos mais graves, levar à morte.