Wagner Fonseca – poeta, professor e blogueiro
Às vezes, durante longos dias, a inspiração me falta por completo. As ideias até pulam de lado para o outro, mas são como sementes que não vingam. Tal qual as mudinhas de alface em meu quintal, vicejam à primeira chuva e sucumbem ao primeiro sol. Como fazem falta minhas ideias!
Contudo, recordo-me certa vez que escrevi justamente sobre essa contradição. “Tenho mil ideias por minuto” e? Nada! Apenas ideias aqui e ali indo e vindo sem fixar-se. Porém, como a inspiração é, como dizem, resultado da observação, reflexão, suor e muito acaso, é preciso também aquietar-se as ideias. Bem, isso faria sentido se as ideias não fossem como crianças hiperativas, afinal, parece que as ideias possuem vida própria e, se não vicejam no terreno temporariamente árido da minha imaginação, elas tomam caminho na empatia enigmática do ser humano e vão semear-se noutras paisagens mentais. Talvez isso explique em partes os “demônios interiores” de Sócrates. Por que não?
Outra forma de pensar sobre esse assunto é imaginar que seria possível forçar a inspiração. Nesse caso penso numa dica que exige esforço: a leitura. Ler é uma excelente forma de atiçar a inspiração e assim, sem querer mesmo, fazer aquelas sementes adormecidas de ideias brotarem felizes e saltitantes!
Quantas frases, versos, parágrafos e poesias inteiras surgiram após uma leitura, seja de jornal, um romance, teoria política (pasmem!) ou outro poema. É como se a leitura adentrasse no âmago de meu intelecto e lá dentro num recôndito afastado desmontasse o involucro da tenaz inspiração. Ler é mesmo um exercício em tanto e, como muitos dizem, ler já é também estudar e o estudo é em si pesquisa. Quem pesquisa encontra, pode demorar, mas encontra encontrará alguma resposta. Pode não ser a resolução dos problemas de sua dissertação de mestrado, mas quem sabe algum leve poema para suavizar as agruras do dia a dia.