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Por que você se pressiona tanto?

Jéssica Horácio de Souza

Psicóloga Jéssica Horácio – CRP 12/14394 – Psicoterapeuta Corporal e Tanatóloga

Você está dirigindo e é tão automático: não o carro mas a sua habilidade em dirigir. Você cruza avenidas, ultrapassa veículos, entra em ruas estreitas, desvia de obstáculos. Sobe e desce vias íngremes e faz isso cantando, observando a paisagem, faz isso tudo bocejando.

Todos os dias ao sair do trabalho você já sabe que precisará pegar aquele trânsito intenso que faz parecer que todos os veículos da cidade decidiram sair ao mesmo tempo. E não é? Mas é tão rotineiro que você nem pensa mais. Liga na rádio, e começa a cantarolar a música do momento enquanto dirige em direção aquele morro gigante que antecede a sua residência. Tudo flui bem até que os veículos à sua frente param. “É, trancou tudo”, você pensa. Só que você comete um grande erro: olhar pelo retrovisor. Por que grande erro? Porque você percebe que o carro atrás do seu colou em você e que o motorista que o dirige te olha seriamente pelo retrovisor.

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Imediatamente você abaixa o volume da rádio: pra que a gente faz isso? Talvez pra se concentrar sem a interferência de ruídos além daqueles que começam a brotar na nossa mente. “Meu carro não é automático, o motor não segura numa subida”, “solto a embreagem?”, “vou apertar com mais força o freio”, “puxo o freio de mão?”, “vou deixar o volante tremer igual aprendi na autoescola”. “Mas, e se ele descer?”

Ansiedade. Medo. Insegurança. Pressão.

Os veículos da frente começam a se movimentar, só falta o seu. Ir pode ser ruim. Ficar também. Aii Deu branco!

As expectativas que são direcionadas a cada ser humano possuem uma armadilha terrível: elas bloqueiam aquilo que já é automático e natural. Engana-se quem pensa que elas motivam, as expectativas aniquilam a espontaneidade humana e podem construir quadros de pânico intensos. As expectativas rígidas nos fazem desaprender o que mais aprendemos, elas colocam em dúvida sentimentos, ações e escolhas que nunca precisaram ser questionadas. De repente você se vê se perguntando se conseguirá segurar o carro no morro.

É demasiado radical acreditar que as pressões exercidas sobre nós são as únicas alternativas possíveis.

Quem nunca ficou em pânico ao saber que teria que mostrar o seu melhor a alguém? Que não poderia falhar, errar, se confundir, desistir?

Acontece durante a prova escolar, acontece ao tentar caminhar em frente à pessoa que amamos – parece que as pernas congelam e a gente não sabe mais como se anda, acontece quando paramos com um carro numa via íngreme sabendo que existe um outro atrás de nós com um motorista nos olhando pra elo retrovisor. Acontece quando sabemos que nossos relacionamentos esperam muito de nós. Mas principalmente, acontece quando nós exigimos muito de nós mesmos.

Nós não precisamos comprar um carro automático, nem apertar mais o freio e soltar menos a embreagem. Também não precisamos buscar uma rota alternativa. Nós só precisamos aceitar que sentir insegurança quando pressionados é normal, tão normal quanto errar, falhar, deixar o carro descer. A questão não é o que faremos para impedir que falhemos, mas como queremos lidar com as nossas falhas. Tem a ver com não se abandonar diante de um erro, mas sim em se acolher ao invés de se culpar, de se amar ao invés de se odiar.

Lembre-se que o carro da frente também poderá descer porque quem o dirige é também um ser humano, exatamente como você.


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