É uma pergunta que cabe uma resposta afirmativa. Com certeza há e haverá pontos de vista contrários, mas isso é desejado em qualquer democracia. Discordância se faz necessário ao crescimento de qualquer sociedade ou comunidade ou grupo social. Da discordância nasce o diálogo e desse o crescimento desejado. Se isso não ocorre, então a discordância vence o diálogo e quando não diálogo, só há imposição.
Somos um país dividido e isso não é de hoje. Essa divisão vem sendo adubada há anos e a cada momento mais desejada por muitos, infelizmente. Política não deve significar divisão, jamais. Também não precisa significar necessariamente consenso absoluto. A maioria pode ser grande e ruidosa, porém nunca absoluta. Recorda-me uma frase, creio ser de Ruy Barbosa, a qual dizia que “toda unanimidade é burra”. Verdade seja dita, sempre é bom ter alguém que fique com o “pé atrás” para poder nos alertar quando deixamos a mentalidade de rebanho nos guiar cegamente. Embora saibamos que não pensar e aceitar a opinião do outro pode ser o mais aceitável em vários momentos, mesmo quem age assim pode lá no fundo não ter suas certezas tão certas assim.
Enquanto sociedade não provamos nenhum sistema melhor que a democracia até os dias de hoje e devemos lutar diariamente pelos valores democráticos. Da vista do meu ponto, jamais gostaria de ter um rei ou rainha que tomasse decisões sobre toda minha vida e ficasse incólume pelo poder em suas mãos. Obviamente, nossa liberdade está longe de ser total e nem saberíamos mensurar o que seria uma liberdade total. O que sabemos é que precisamos conviver, pois foi da convivência que surgiu a sociedade e o Estado. Somos seres relacionais, iguais em alguns momentos e distintos, diversos e complexos em todos os outros momentos que somam em nosso cotidiano.
Infelizmente, no atual pleito eleitoral tivemos uma imensa polarização em nosso país como se não houvesse outras opções, entretanto, todas as opções estavam lá hoje como estiveram há quatro anos. Mesmo assim as forças que comandam nosso povo organizaram uma caminhada para o embate entre dois pontos como se fossem as únicas opções. Ainda precisamos crescer, cada um de nós. De que adianta questionarmos a corrupção dos grandes e praticarmos a pequena corrupção no dia a dia?
Do outro lado, como podemos crescer enquanto povo, enquanto sociedade, enquanto país se não aceitamos a opinião alheia? Ou pior, quando tratamos nossa opinião como a única possível e aceitável?! Aliás, opinião não deve ser algo que apenas expressamos sem reflexão. Precisamos ter uma base, estudar, refletir, analisar todos os contextos que cerceiam uma ideia ou ação antes de emitir algo tão precioso como nossa opinião.
Não podemos estimular mais ainda a divisão em nosso país, afinal, a quem interessa um país dividido? Já questionei isso em outros textos e continuo a questionar. Oras, se são as diferenças justamente aquela “argamassa” que nos une, por que as usamos para nos separar?
Sobre o pleito eleitoral ora finalizado, é importante dizer que o fato de alguém votar num candidato não significa que concorde com ele plenamente. Votar em um candidato A pode significar simplesmente ser contra o candidato B e vice-versa. Esse é um dos problemas dessa polarização instalada em nosso país. Votar em alguém para garantir que o outro não vença, pois, dentro de meu olhar, aquele outro é ruim para meu país. Esse é um dos entendimentos possíveis.
Há quatro anos vi muitos status, muitos stories, muitas postagens com o famoso “luto por meu país”. Agora vejo de novo. Eu não entrei em luto antes, eu não comemorei agora. Política para mim é algo muito sério e que faço todos os dias. Todavia, não posso deixar de dizer que toda e qualquer possibilidade de autoritarismo me assusta. Sejamos vigilantes, hoje e sempre. Estude, analise, e aprenda a respeitar para conviver. Nosso Brasil precisa disso tanto quanto cada um de nós individualmente.