Médico e professor da Unesc, Rafael Ostermann aponta diferentes reflexos da doença em pacientes infectados.
Após meses de pesquisas a análises de pacientes infectados com a Covid-19 em todo o mundo, aos poucos a ciência tem encontrado novas evidências para o combate à doença. Entre as descobertas já relatadas em estudos estão o aparecimento de sintomas diferentes dos principais mencionados até então como tosse seca, febre, dificuldade para respirar e cansaço. Ao acompanhar de perto a situação da pandemia na região, participando ativamente do projeto SOS Unesc Covid-19, o médico e professor da Universidade, Rafael Ostermann, afirma que entre as novidades está o aparecimento de sintomas cutâneos e gastrointestinais.
Conforme o médico, esses são considerados sintomas atípicos da doença, que, com o avanço das pesquisas, já mostra que vai muito além de uma doença respiratória ou hematológica como citado até então. “Até agora a medicina têm focado o conhecimento em cima de quadros pulmonares, inclusive esse é o mote dos direcionamentos das triagens, porém, nós já sabemos que vem sendo cada vez mais relatados na literatura casos de lesões dermatológicas e ligadas ao sistema gastrointestinal”, afirma.
Entre as diferentes manifestações do vírus, de acordo com Rafael, podem estar o aparecimento de alterações locais na pele, por vezes resultado de alterações vasculares que se manifestam na pele. “Existem, por exemplo, algumas lesões que podem aparecer nos pés e nas mãos. São lesões avermelhadas que muitas vezes se parecem com bolhinhas de pus, o que chamamos de erupções. Isso pode ocorrer em torno de 19% dos pacientes e já nos estágios mais avançados da doença”, salienta.
Ainda entre as manifestações cutâneas, de acordo com o médico, podem estar as chamadas vesículas, erupções vesiculares, algo parecido com um herpes e que é mais comum em pacientes de meia idade.
Outras possibilidades relacionadas à lesão em pele, conforme Rafael, estão as chamadas urticariformes e erupções maculopapulares. “A urticariforme, parece uma urticária, uma reação alérgica. Ela pode se espalhar por todo o corpo e em geral faz com que o paciente sinta uma coceira bem intensa. Já as erupções maculopapulares, presentes em 50% dos pacientes, são lesões mais elevadas, como uma placa avermelhada”, explica o professor.
Por fim, pesquisas já mostram também a significativa presença do chamado “livedo reticularis”, condição que traz o aspecto de “pele motiada”. “Nesses casos aparecem vasinhos sanguíneos bastante evidentes. Isso muitas vezes ocorre fruto da obstrução vascular por coágulos. Isso porque o coronavírus, além de ser uma doença respiratória, também gera distúrbios na coagulação, uma coagulação descontrolada, o que foi descoberto através de autópsias de pacientes que foram a óbito em decorrência da Covid-19”, explica o médico, que acrescenta que os exames nestes casos apontaram a presença de coágulos, trombos, no pulmão, no cérebro, nas artérias dos rins, nas coronárias e em artérias a nível da pele.
Já no que diz respeito aos sintomas gastrointestinais, ligados à sua especialidade, conforme Rafael, não é tão claro o diagnóstico ligado à Covid-19. “Os sintomas gastrointestinais tão ou mais frequentes nos pacientes com o vírus, porém são muito inespecíficos. Nós não conseguimos, baseados na sintomatologia, na clínica digestiva, dizer que um paciente tem alta probabilidade de ter a Covid”, comenta.
Já entre os relatos citados na literatura, ainda conforme o médico, estão casos de dores abdominais intensas principalmente no lado direito, o que leva ao diagnóstico de uma possível apendicite. “Alguns casos chegaram a ser operados por conta dessa forte suspeita, porém quando em cirurgia foi descoberto eu na verdade trata-se de uma inflamação nos gânglios, nas ínguas que ficam em volta do intestino, o que chamamos de adenite mesentérica”, acrescenta.
Como os sintomas elencados se manifestam em casos já mais avançados da doença, de acordo com Rafael, os protocolos e orientações seguem priorizando o diagnóstico através dos sintomas listados como principais. “É preciso tomar todas as medidas de prevenção com uso constante de máscara fora de casa, saídas apenas se necessário e higienização das mãos com álcool gel ou água e sabão em todas as situações. Os sintomas de alerta continuam sendo a febre, a tosse seca e o cansaço acima do normal do dia a dia”, instrui.
SOS Unesc: Covid-19
Caso tenha algum dos sintomas ou queira tirar dúvidas sobre a Covid-19 os moradores de toda a região Sul de Santa Catarina podem contar com o programa SOS Unesc – Covid-19. O programa disponibiliza, ao todo, 72 residentes da área da saúde, 14 professores da Universidade e 24 professores médicos para atendimento virtual.
Por meio da ferramenta de Whatsapp o grupo pode sanar dúvidas sobre sintomas, formas de agir e, sobretudo, selecionar os casos graves para encaminhamentos às Unidades Básicas de Saúde. O número oficial para os atendimentos gratuitos, de segunda à sexta-feira, das 8h às 20h, é o (48) 9 9183-8663.