Psicóloga Jéssica Horácio – CRP 12/14394 – Psicoterapeuta Corporal e Tanatóloga
Às vezes precisa doer como nunca para não doer nunca mais. Dói dizer adeus para aquilo que tornou os nossos dias mais leves, sorridentes, intensos, seguros; mas dói ainda mais fazer de conta que não acabou. É que quando fingimos, acabamos fechando os olhos para a vida que continua acontecendo apesar do nosso sofrimento.
Eu sei que dá vontade de pedir para o mundo parar enquanto a gente se recupera, mas até nisso ele pode nos ajudar se soubermos respeitar a mensagem que ele nos passa: que tudo é passageiro, inclusive o que sentimos.
Temos o direito de sentir tristeza, raiva e até mesmo pena de nós mesmos, afinal, são sentimentos que fazem parte de quem somos e que são fundamentais para o nosso crescimento emocional. A gente só reconhece um momento alegre porque um triste já existiu. O problema não está no contato com estes sentimentos, mas sim quando lutamos contra eles ou ainda, quando acreditamos que não existe vida após o aparecimento deles.
A perda é vista como um ponto final, como se a nossa vida tivesse que ir embora junto com aquilo que perdemos. Apesar de doer muito, precisamos nos lembrar que há vida durante e após a perda por mais dura que ela seja. Mesmo que ela nos pegue de surpresa, mesmo que ela nos tire algo ou alguém que nos ajudava na missão de dar sentido para a nossa existência.
Mas sabe por que a perda não é ponto final mas sim uma vírgula? Porque foi assim no nosso nascimento: foi necessário abandonar o conforto da casa útero para nos lançar em um outro mundo, foi assim também no nosso primeiro dia de aula longe dos nossos pais, na primeira vez que ficamos internados no hospital, naquele fora que levamos na adolescência e naquela vaga de emprego na qual nos preparamos tanto mas não fomos aprovados.
Foram perdas necessárias para o desenvolvimento de quem somos hoje, foram elas que contribuíram para as piores e melhores fases da nossa vida.
Já que as perdas fazem parte da nossa vida e são fundamentais para o fechamento de ciclos e início de outros, que tal nos relacionarmos melhor com elas? Te convido então para prestar atenção no modo como você lida com as pequenas perdas no seu dia a dia: perda do horário do ônibus, perda da senha da wifi, da chave do carro… Se aprendermos a escutar as nossas emoções e expressá-las com sabedoria e significado, eliminaremos o medo de passar por situações que tem o potencial de desencadeá-las. Pense nisso!