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Para voar tem que sair da gaiola

Jéssica Horácio de Souza

Psicóloga Jéssica Horácio – CRP 12/14394

Psicoterapeuta corporal e tanatóloga

Estes dias estava pensando sobre as prisões nas quais nos colocamos por medo de sofrermos. Parece contraditório, não é? E talvez seja mesmo: fugimos de uma dor construindo uma outra dor. A diferença neste caso é que a prisão pode ser extremamente segura, já a saída dela pode mexer com o controle que acreditamos numa tentativa de evitarmos o nosso próprio sofrimento.

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Você já viu alguém mergulhar no mar ou em uma piscina? Já notou a delícia que é ver alguém se jogar no chão e gargalhar? A contemplação da entrega do outro costuma despertar a nossa admiração e as vezes até a inveja devido a nossa ausência de coragem. Alguns pacientes já relataram pra mim que sentem muito medo de nadar porque acreditam que se tirarem os pés do chão irão se afogar. Fico me perguntando de qual afogamento eles estão falando, se é físico ou emocional. E noto com pesar que o desejo de se jogarem não é forte o suficiente para abdicarem das prisões que os mantém seguros, porém, limitados.

Estamos no penúltimo mês do ano de 2021, e é comum que os rituais de confraternização de fim de ano comecem aparecer. Com eles surgem as expectativas para o próximo ano onde construímos novas metas, fazemos planos, definimos como queremos que sejam os próximos 365 dias. Nesta época eu geralmente me questiono se estes rituais servem para organizarmos a nossa vida ou se servem para limitar o nosso olhar sobre as possibilidades que a vida nos permite experimentar. Talvez a resposta para essa minha dúvida esteja em uma palavra: equilíbrio.

Saber dosar as expectativas pode ser importante para não nos colocarmos em prisões através das predefinições de como achamos que deve ser. A organização de projetos pode funcionar como um norte, mas não precisa ter o potencial de negligenciar tantas outras direções que podemos tomar.

Minha sugestão então é, ao invés de construirmos novas prisões, que tal aprendermos a sair daquelas nas quais já estamos inseridas? Nadar, se jogar no chão e gargalhar somente será possível quando conseguirmos romper com as grades que colocamos visando a nossa própria segurança.

Talvez tenhamos que dar uma pausa em alguns planos e diminuir as metas para os próximos meses. Provavelmente teremos que fazer contato com desconfortos e quem sabe até com algum nível de sofrimento, afinal, há motivos para termos nos colocado dentro das prisões, lembra? Mas será suportando a liberdade de voar que abdicaremos das gaiolas.

Que os teus dias te surpreendam e que você se permita experimentar trilhar caminhos antes nunca trilhados.


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