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Pai e mãe: heróis ou humanos?

Jéssica Horácio de Souza

Psicóloga e Psicoterapeuta Corporal

Não entendemos, somente sentimos e nos questionamos: “Mas por quê?”. Então entra-se em contato com a raiva que esconde a tristeza da falta, do não ter, da carência e ás vezes, da negligência. É uma ausência que dói, machuca, e que custa a cicatrizar. Todo a sequência da vida se torna uma conseqüência e justificativa desta falta vivida na infância: relações tóxicas, medo de entrega, dificuldade em confiar, sensação constante de abandono, autoboicote, medo intenso da frustração… A ferida tem nome e endereço: ela se chama mãe e pai, fica dentro da própria casa,  está lá atrás, lá na infância mas ainda dói como se fosse sofrida diariamente.

Tanto tempo se passou, mas essa dor o relógio não curou.

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Culpados? Algozes? Vilões? Ou simplesmente seres humanos também afetados por aquilo que sentiam e não compreendiam? A compreensão de que  pais também possuem limites emocionais somente acontece quando o que sentimos por eles; devido a forma como nos educaram; é tratada. Há quem tente racionalizar tudo o que foi vivido na infância, isso funciona como uma forma de se defender dos sentimentos que tem pelos pais. Ás vezes esses indivíduos se julgam ingratos ou rejeitam os seus sentimentos e com isso se esforçam racionalmente para nutrir sentimentos benévolos pelos seus genitores. A consequência disso são relações sem intimidade, repleta de medos e inseguranças, com muitas limitações e repressões com seus genitores.

Há também quem busque compensar o passado no presente exigindo além do limite humano ou além do querer de um indivíduo que nada tem a ver com as carências alheias. Você já deve ter percebido alguém que cobra que façam muitos favores para si como uma forma de compensar o que julga não ter recebido dos pais no passado. O resultado dessas relações também é patológico pois elas são permeadas de insatisfações, cobranças, vitimizações e autoritarismo.

É somente quando o indivíduo externaliza tudo o que sente decorrente das faltas que julga ter vivido na infância, que consegue seguir adiante com compreensão fiel dos limites alheios, sabendo que apesar de todo o sofrimento, hoje se transformou em um adulto que portanto pode reconstruir em si mesmo aquilo que talvez ficou ruído na sua história. O processo de cura da dor inicia com o acolhimento dos sentimentos, segue com o perdão e finaliza com o desenvolvimento da empatia.

Pai, mãe, filho, tio, avó… Todos seres humanos limitados pela sua condição emocional. Nenhum deles heróis, somente seres humanos cercados de conflitos emocionais que fizeram de acordo com sua condição psíquica. Buscar enfrentar nossas ausências não nos tornará melhor que eles, só nos fará diferentes.  Que você busque se nutrir, hoje você pode fazer isso por si, afinal, hoje você é “gente grande”.


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