Psicóloga Jéssica Horácio – CRP 12/14394 – Psicoterapeuta Corporal
O que é que está na moda? Cintura alta, baixa, decote profundo, gola alta, tom pastel ou talvez um neon…? Mas, e se eu não me sentir bem vestindo aquilo que é tendência? Se a calça alta apertar demais minha cintura a ponto de me trazer desconforto? Ou se a calça baixa realçar aquela parte do meu corpo que não é a das minhas preferidas? E ainda, se aquele modelo de decote não for indicado pra minha anatomia mas for o que eu mais me sinto confortável, e ou, bonita?
A estética não surgiu ao acaso, ela é referência nas artes, arquitetura, moda… Serve como uma forma de harmonizar um ambiente ou roupa para torná-la mais aceitável para uma maioria de acordo com referências culturais e históricas. Deve formar sugestões de conceitos, opções e hipóteses a serem consideradas, mas jamais se tornarem regras universais a serem seguidas.
Conceitos de certo e errado constituem pólos opostos que estão presentes em tudo no mundo, e existem diversas teorias a respeito: religião, capitalismo, moral… Contudo, quando falamos de felicidade, precisamos selecionar não somente o que é considerado socialmente adequado e excluir o que é inaceitável, mas sim substituir estes pólos pela palavra saudável. Esta que consegue compreender a singularidade de cada indivíduo e respeitar a sua própria história de vida, aquilo que o toca sentimentalmente e que traz sentido para a sua existência.
Voltando à questão de estética, padrões e moda, sabe-se que quando existe uma referência, há a tendência para a comparação uma vez que seguir o que é aceitável socialmente promete trazer ganhos sociais: aceitação, mais relações, inclusão, elogios… Ou seja, ao comparar-se àquilo que é “correto”, o indivíduo questiona o próprio valor e nega a sua própria individualidade se tornando apenas mais um tentando ser igual.
É deste modo que sentimentos de inferioridade, autocobrança, menos valia e raiva do próprio corpo se manifestam. Na tentativa de ser aceito o indivíduo acaba se negando e construindo relações em cima daquilo que tenta ser mas, que não é. Assim surgem sentimentos de insatisfação, inveja, sensação de que não é amado incondicionalmente, existe sempre um vazio, uma falta que não se preenche até porque o antídoto para ela não é o que agrada o outro mas sim o que agrada a si mesmo.
Então, embora a mídia enfatize padrões e conceitos radicais para fortalecer o marketing e girar o comércio, é fundamental que cada ser humano ao invés de seguir o que é ditado, se questione primeiramente a respeito do que realmente gosta e lhe faz bem, que contribui para a sua própria aceitação.
Algumas pessoas brigam com seu próprio corpo, se diminuem, desqualificam, repudiam quem verdadeiramente são, esquecem que o corpo o qual habitam a seguem desde o ventre materno, que cada parte sua já foi de uma criança cheia de sonhos, de fantasias onde tudo seria possível, onde seriam amadas pelo o que se tornariam e não pelo o que vestiam.
Por isso proponho uma atividade: pegue uma foto sua de quando era criança, analise cada elemento da foto: expressão, postura, roupa, corpo… Depois vá até um espelho e analise cada parte sua: seu olhar, seu sorriso, e todos os outros elementos observados na foto. Perceba onde está aquela criança que merecia amor simplesmente por ser uma vida. E tente encontrá-la dentro de si.
Você não precisa fazer tanto esforço para se sentir amada, aceita, respeitada. Você somente precisa respirar fundo e querer bem a sua morada, o seu corpo, afinal, é nele que você habitará para sempre. Talvez a nova tendência possa ser transformada naquilo que a faz feliz.