“A educação falhou”, diz um empresário do ramo de escolas de idiomas. Sim, ele está correto, a educação falhou: família, igreja, Estado e a escola, ou por acaso vocês acham que educação é só escola? Falhamos enquanto sociedade, diariamente.
Falhamos quando elegemos nossos representantes políticos que escrevem as leis que justamente garantem que sejam eleitos para garantir que suas leis sejam escritas e garantidas para justamente garantir a perpetuação desse ciclo vicioso de corruptibilidade da vida social e política, da infância à falência vital.
Falhamos quando a vítima estuprada é culpada pelo estupro, falhamos quando aceitamos que essa mesma vítima seja comparada com uma “cachorra no cio” e falhamos mais ainda porque aplaudimos quem diz isso, porque muitos de nós concordamos. E continuamos indo até o Mestre questionar-lhe o que fazer com a mulher infiel. Ele, agachado, escreve no chão. Será que hoje nos mandaria olhar primeiro nossos erros antes de julgar aos outros? Ou também agiria como os exemplos que temos visto? “Cidadão, não!”, ou, “Vocês têm inveja da cor dos meus olhos?”, ou quem sabe, “Aqui é o Messias, olhe com quem você está falando!”.
Não é o Brasil que está revirado, porque esse país ainda nem conseguiu se constituir seriamente enquanto povo ou nação, pelo menos não de forma madura, não é mesmo?
Nós olhamos as redes sociais por tempo suficiente para nos enojar, porque as pessoas perderam o medo de expor suas fétidas camadas internas. Até bem pouco tempo atrás bastava manter as aparências e ir à igreja aos domingos, pagar seus impostos piamente e dizer aqui ou ali um pouco de seus preconceitos, num círculo limitado de intimidade. Geralmente entre aqueles que compactuassem dos mesmos valores. Entretanto, gradualmente as pessoas que sofriam com os preconceitos começaram a se impor e exigir espaço, visibilidade e pararam de ter medo por ser quem são e como são, pois, antes de tudo, somos humanos, antes de tudo, somos seres vivos e, numa visão religiosa cristã, aos olhos do Pai, somos todos iguais. É, nesse quesito as coisas começam a se complicar…
Me pego olhando os botões da tela da caixinha mágica e me pergunto se realmente vale a pena compartilhar tamanha mesquinharia alheia. Penso nos meus erros, nos meus pecados e preconceitos internos, reflito sobre meus julgamentos. Não torço eu também pelo fim disso tudo com a eliminação da espécie humana? Seria considerado uma pessoa ruim ou insana por pensar isso? Ou tais pensamentos só surgem por visibilizar tanta maldade difundida pelas redes sociais e pela vida real mesmo? E não sou eu também um vetor dessa difusão de maldades e mesquinharias?
Tenso.
Suspiro, reflito.
A educação não falhou, tampouco a família, a igreja ou o Estado, muito menos a espécie humana falhou. Falhamos, isso sim, diariamente, e por esse motivo precisamos nos reinventar, rever nossos preconceitos mais arraigados, rever nossos vieses de violência com os quais muitos de nós acreditamos poder resolver tudo. Porque, se continuarmos a combater fogo contra fogo não restará nada além de cinzas daquilo tudo que um dia poderíamos ser.