Psicóloga Jéssica Horácio – CRP 12/14394 – Psicoterapeuta Corporal
O tato é o primeiro canal de comunicação do indivíduo com o mundo. É através do toque que o bebê sente que existe algo além dele mesmo, que percebe sensações como frio, calor, que identifica se o toque lhe dá prazer ou dor. A pele é o órgão responsável por receber o toque, é através dela que as sensações são recebidas e identificadas.
As sensações que cada indivíduo tem ao ser tocado estão relacionadas ao modo como ele recebeu carícias na infância. Assim como todos os mamíferos, os bebês humanos possuem a necessidade de se sentirem seguros e aconchegados, e a forma como buscam a satisfação desta necessidade é através do contato próximo com outro, e que se dá principalmente com os seus genitores. Assim, será através das carícias que o bebê obterá o afeto e a intimidade que precisa, já o alimento e a tonalidade da voz dos pais, por exemplo, serão complementos e reforçadores destas carícias, justamente porque a pele é o primeiro plano da consciência humana.
O ser humano por possuir capacidade simbólica de interpretar e dar significado às suas experiências, consegue dar significado ao toque, simbolizar e interpretar por exemplo um aperto de mãos ou um cafuné, uma massagem, um beijo, uma relação sexual, sendo que este significado será dado de acordo com os limiares de prazer e desprazer que as sensações trazem.
Se você, quando criança caiu e machucou os joelhos e pediu para a mãe cuidar dos ferimentos, sabe o quanto o toque alivia dores. Se você já perdeu alguém e no momento do sofrimento recebeu um abraço, sabe o quanto o toque pode confortar. Se você já sentiu muito medo de enfrentar uma situação e naquele momento teve uma mão para segurar a sua, sabe o encorajamento que o toque traz.
Contudo, não são todos os indivíduos que conseguem integrar o ato de tocar com os sentimentos. Para algumas pessoas, tocar e ter sentimentos são canais totalmente diferentes onde um independe do outro. A falta de contato corporal ainda nos primeiros anos de vida contribui para a dissociação do sentir e do pensar, estruturando desta forma personalidades que trazem consigo uma sensação constante de vazio, medo de entrega afetiva, falta de contato corporal e tendência a racionalizações. Assim, entende-se que a forma como as necessidades de carícias foram supridas na infância será expressada no modo como o indivíduo quando adulto irá demonstrar seus sentimentos tanto para si quanto para àqueles com quem se relacionar.
O medo de sentir dor é o conflito básico de indivíduos que possuem tendência a racionalização e dissociação dos sentimentos, isso porque em algum momento da sua vida este ser entrou em contato com situações de extremo sofrimento buscando na razão uma forma de evitar entrar em contato com qualquer tipo de dor. Contudo, ao evitar-se entrar em contato com a dor, evita-se também entrar em contato com o prazer, o que contribui para o fortalecimento da sensação de vazio existencial e de insatisfação constantes.
Uma forma de lidar com o medo de sentir é tentar identificando a visão que o indivíduo tem de si, e principalmente, quais ganhos e prejuízos de fortalecer este traço de carácter. Identificar comportamentos que contribuem para a fuga dos sentimentos também possibilita um reajuste comportamental, contudo, a mudança principal precisa ser a partir dos próprios sentimentos. Quando avaliamos todas as crenças apreendidas no decorrer da nossa vida, começamos a sentir as emoções que elas causam e o que está indiretamente contido nelas. É assim que a elaboração de traumas e conflitos que justificam o bloqueio emocional podem ocorrer.
Se você se identifica, busque auxílio psicológico, perceba o que o medo de sentir tem trazido para a sua vida, e como você gostaria de preencher a sensação de vazio existencial que sente. Se permita mudar, é através do toque que conseguimos identificar sentimentos registrados na nossa psiquê e ressignificá-los.