Psicóloga Jéssica Horácio – CRP 12/14394
Psicoterapeuta Corporal e Tanatóloga
Quero te pedir para fazer o seguinte exercício antes de ler todo este texto:
- Feche os olhos e inspire lenta e profundamente;
- Retenha o ar nos seus pulmões e lentamente, vá soltando ele pela boca.
- Ainda de olhos fechados e mantendo esta respiração, você vai buscar na sua memória um momento em que recebeu apoio de alguém: lembre qual era o contexto, por que o apoio era importante para você, de que forma ele veio e como ele contribuiu para a sua vida.
- Com todas as respostas respondidas, você poderá dar continuidade no texto.
Será que nós realmente sabemos e sentimos o que representa o apoio emocional? Eu acredito que não. Já percebeu como o ódio está cada vez mais escancarado, e mais, como temos julgado as escolhas que diferem das nossas?
Temos confundido apoio com aprovação. Eu não sei como foi a lembrança que você teve ao fazer o exercício, mas se ela for permeada de incentivos, palavras de motivação e impulsionamento em um momento feliz da sua vida, preciso te dizer que você não recebeu necessariamente um apoio, mas sim, uma aprovação. Sim, porque se alguém concorda com a decisão que você quer tomar ou com o momento pelo qual você está passando, esta pessoa te aprova e te autoriza a estar como está e fazer o que quer fazer.
É somente quando estamos com medo e insegurança, com várias dúvidas permeando a nossa mente, desejando fazer algo que não é aceito por alguém que é importante pra nós, que o apoio emocional faz sentido. Você quer mudar de emprego e seu pai concorda com isso e te incentiva? Bem, ele está te aprovando. Você quer mudar de país e suas amigas te motivam e fazem planos com você? Elas certamente aprovam a sua decisão. Você precisa terminar um relacionamento por motivos que só você sabe e sua mãe não entende e nem concorda mas, diz que estará com você independente das suas escolhas? Bem, com certeza a sua mãe te apoia.
Muitas pessoas tem desejado apoio mas erroneamente procuram por aprovação. O resultado disso é que muitas vezes deixam de fazer o que realmente querem para não desagradar alguém, ou ainda, quando são aprovadas, se sentem pressionadas a permanecer com aquela decisão pra sempre. É, a aprovação tem essa cilada: ela cria altas expectativas. Quanto mais aprovações nós recebemos, mais amarrados com as pessoas que nos aprovaram ficamos. Imagina só se desistirmos no meio do caminho? E se mudarmos de ideia? E se ficamos confusos? Dá medo, ansiedade, insegurança, pânico, desânimo e culpa.
É interessante pensarmos nestes contextos porque estamos num momento político e social nacional e global em que supostamente, há uma busca pelos valores familiares. Bom, se estamos falando de família, estamos falando de mais de uma pessoa, e se estamos falando de duas pessoas ou mais, estamos falando também que cada uma delas tem os seus próprios valores. Então, que valores familiares são esses pelo os quais estamos lutando? Afinal, há famílias que divergem completamente de visão de mundo, outras que são extremamente tóxicas, algumas que são rígidas demais, há aquelas que superprotegem… E se há esta pluralidade de modos de ser família, então haverá também uma variedade de princípios e valores.
Há pais que concordam que o filho mude de emprego, mas há aqueles que não gostam de arriscar e por isso acreditam que o filho também não deve. Há mães que estimulam o casamento das filhas, mas há aquelas que rejeitam completamente a ideia de relação conjugal. Mas há também pais e mães que independente da escolha que fariam na vida, entendem que essa escolha é individual e que não tem como garantir que essa mesma escolha fariam seus filhos e filhas felizes, bem, esses são os pais que apoiam.
Mas, como podemos desenvolver o apoio? Geralmente pais que não apoiam já foram filhos que não receberam apoio. Quando entendemos que não existe somente um único jeito de viver passamos a ser menos onipotentes e exigentes para com o mundo. Só podemos apoiar alguém quando a vontade de ver este alguém bem é maior que o nosso desejo de falarmos: “Eu avisei”, “Que bom que você fez o que eu te pedi”, “Eu sempre sei o que é melhor pra você”. Amor não é ter controle sobre o destino do outro, amor é desejar o bem para este outro independente do destino que ele escolheu seguir.
Então sugiro que façamos um outro exercício:
- Feche os olhos e pense em cada membro da sua família;
- Responda honestamente para si: Você tem apoiado eles? Tem estado com eles independente das escolhas que fazem e da forma como vivem?
Definitivamente não somos obrigados a aceitar tudo o que nos apresentam, mas isso não implica em rejeitar ou ser cruel com quem tem uma outra perspectiva sobre a vida.
Repense se os seus valores familiares são realmente saudáveis ou se eles só falam sobre fazer faculdade, casar dentro de uma regra sexual normativa, ter filhos, ter sucesso profissional e adquirir bens. Talvez alguém dentro da sua casa esteja neste momento se sentindo com medo de assumir um outro jeito de viver, esteja escondendo o que verdadeiramente lhe traz sentido na vida. É neste momento que você poderá oferecer não a sua aprovação, mas sim o seu apoio. Você não tem que concordar com tudo o que o outro faz, isso você deve fazer com as suas próprias escolhas. Quanto ao outro, bem, você já sabe o que é amar. A pergunta é: você está disposto a apoiar?
Observação: este texto não representa um culto à dependência emocional, ele só não é um incentivo à autossuficiência que tem trazido severos danos físicos emocionais para a vida de milhares de pessoas que, na ausência de apoio e acolhimento, optam por negarem sua própria identidade e suas fragilidades.