Ana Maria Leandro Ramos, de 51 anos, estava tomando banho, em sua casa em Lauro Müller, quando descobriu algo estranho na mama direita. Eliane Ferreira Paulino Prudêncio, de 42 anos, foi fazer exames de rotina na Rede Feminina de Combate ao Câncer em Içara, quando uma alteração motivou um pedido de mamografia. Em comum o mesmo diagnóstico: câncer de mama, o medo, a força na família e a fé.
A comerciante e a agricultora não se conheciam até ontem, ocasião em que ambas foram fazer o mutirão de reconstrução mamária no Hospital São João Batista. A iniciativa envolveu a instituição privada, que realizou os procedimentos gratuitamente junto aos cirurgiões plásticos Fernanda Buss Porto Leite, Giorgio Bez Batti, Glayse June Favarin, Eduardo Favarin, além de outros parceiros.
Era perto do natal, dia 22 de dezembro de 2015, quando Ana, mãe de três mulheres, atualmente com 31, 27 e 23 anos, descobriu o câncer. “Meu seio direito estava duro. Meu marido pediu que eu buscasse com brevidade um médico. Consegui um exame de mamografia na véspera de Natal”. Logo veio o resultado tão temido. Em seguida outro susto enorme, um pequeno nódulo no esquerdo, e a descoberta de outro tumor maligno. A cirurgia foi logo em seguida, dia 05 de janeiro, após exames complementares. O processo apesar de doloroso, com a retirada da mama, perda dos cabelos, cílios e sobrancelhas durante a quimioterapia foi encarado com muita positividade e oração.
O marido Emir Ramos, de 56 anos, confirma. “Fácil não foi. Tive que ser forte para poder dar força para ela”, revela o aposentado. Com a queda dos cabelos, veio a doação de uma peruca da própria filha, na época grávida. Ela cortou e mandamos fazer. “Ficou como era o meu”, detalha emocionada. Ontem, a poucos passos da realização de um sonho, Ana estava confiante e agradecida. “É um gesto bonito e humano de todos os envolvidos no mutirão. Nossa família já colocou todos em suas orações. Não teria condições neste momento de pagar e desejo que outras mulheres possam ter essa oportunidade”, afirmou.
Já no quarto de recuperação do São João Batista, logo após a reconstrução mamária Eliane Ferreira Paulino, acompanhada da cunhada e da filha, não escondia sua alegria. “Depois da chegada do meu neto, a ligação e notícia do mutirão foi a melhor já recebida em minha vida”. A agricultora da Sanga Funda, em Içara, conta que demoraria anos para poder fazer a cirurgia. Quando descobriu o câncer de mama, revela que foi muito difícil. “Fiquei sem chão, pensava nas minhas filhas, uma delas grávida, e que poderia não ter a chance de ver meu neto crescer”. E foi justamente no neto, Cássio, que ela encontrou forças e ânimo para seguir adiante. “Ela enfrentou tudo com bravura”, relembra a filha Tamiris.
A gerente-administrativa do HSJB, Mariana Rothlisberger destaca a missão da instituição de levar qualidade e fazer a diferença na vida das pessoas. “A oportunidade de vivenciar momentos como esse, junto a nossos parceiros, nos faz acreditar que estamos no caminho certo”, observa.
Para a cirurgiã plástica Fernanda Buss Porto Leite, contribuir para devolver a autoestima destas pacientes é algo inspirador. “Não tem preço. Sabemos da importância da reconstrução mamária na vida destas mulheres. Essa causa nos sensibiliza e deveria ser tratada com mais respeito pelas autoridades. É lei! Mulher com câncer de mama tem direito a reconstrução, mas existe uma grande morosidade, por isso o mutirão, a disponibilização do nosso tempo e da nossa dedicação”, aponta. A colega Glayce Favarin completa: “Foi um grande trabalho em equipe, somente possível graças à ajuda de parceiros. É muito gratificante ver a felicidade e o ganho de qualidade de vida de cada uma delas. Isso muda a vida das pessoas. É muito bom saber que você se doou e que pode participar de toda essa mudança”.
Segundo Giorgio Bez Batti, cirurgião plástico também participante do mutirão, vários critérios foram observados na seleção das beneficiadas. “Fomos até a lista da Unidade de Assistência de Alta Complexidade em Oncologia (Unacon) do Hospital São José, onde os pacientes são atendidos via Sistema Único de Saúde, e observamos quais tinham condições de serem operadas, suas indicações cirúrgicas, clínicas e quais se enquadravam nos tipos de procedimentos que seriam realizados”.