Wagner Fonseca, poeta, professor e blogueiro.
Ah, sim, com toda certeza o mundo enlouquece
Ou talvez, seja melhor dizer, enlouquece nada
O mundo cresce, se espalha, se exibe e desaparece
Tudo no ritmo tresloucado da evolução
Lenta e permanentemente
O mundo já era mundo antes de existir gente
O mundo já era velho antes de existir a gente
E o mundo continuará a envelhecer e sorrir
Quando não houver mais gente
Quando não houver mais essa gente
Que somos nós
E nós?
Nós somos tudo de bom no mundo,
Até onde sabemos, disse um antropólogo
Somos nós que damos significado ao mundo
Ao mundo e ao universo
Pois não sabemos se os animais e as plantas contemplam a natureza
Com a mesma firmeza, com a mesma clareza,
E também com frieza
Tristeza… é saber que também somos nós
Que destruímos tanta beleza
Pouco importa a fraqueza das rimas
Pois no universo que é infinito
Tanto faz se você acha que é alto
Ou que está em cima
Estamos todos no mesmo barco
Na mesma nave
Na mesma Mãe com seu ventre mutilado
E ainda assim nada aprendemos
Após séculos de julgamento perpetrado contra quase tudo
E com certeza contra todos
Destilamos o ácido ódio individual contra todo o bem
E todo o mal
Que causamos e nos vangloriamos
Por odiar quem do outro lado está
O mundo enlouquece?
Não, nada disso
O mundo permanece
Nós é que passamos, uns como idiotas, outros necessários
Deixamos nossa marca achando que somos o máximo
Somos quase nada num infinito vai e vem
Que chamamos de Universo
Tão grandioso, tão repleto de outro infinito
Nada
Quem somos, o que fazemos, o que acrescentamos
Nesse amálgama chamado vida
Um pouco mais de amor?
Ou toneladas de raiva?
…
Já não somos ovelhas
Nem lobos maus
Nem pobres pastores
Não somos mais grama
Nem moléculas despreocupadas
Nem luz, fria ou opaca
Somos coisas que serão esquecidas e o mundo
Ah, pobre e feliz mundo
Esse ficará se eternizando junto ao universo
E a cada nova tentativa cá estaremos
Escrevendo mirabolantes guerras
Em nome de qualquer coisa que valha
Quiçá, alguém diga algo que tenha mais valor
Que a própria vida
Pois a vida sem amor não é vida
É uma simples história esquecida
De uma tela jamais pintada.