O escritor John Boyne mais uma vez explora a inocência de uma criança para retratar as crueldades da guerra. Em seu mais recente livro, O Menino no Alto da Montanha, o personagem Pierrot mora em Paris e fica órfão ainda criança bem na época da Segunda Guerra Mundial. Seu melhor amigo é deficiente e judeu, por isso a mãe dele não pode adotá-lo. Fica uns dias em um orfanato e sua tia – irmão de seu pai e alemã – o adota e ele vai morar com ela, que é governanta, na casa de pessoas poderosas na Alemanha.
O garoto começa a frequentar a escola, mas lá não percebe muito o que está acontecendo em seu país e a sua volta. O dono da casa é o próprio Hitler, que se afeiçoa ao garoto e começa a ensiná-lo sobre suas crenças. Pierrot tem que seguir regras rígidas, se comportar de forma que não imaginava, tem que se distanciar de seu passado, vai se adaptando aos poucos e fica fascinado com o poder e com tudo o que escuta e vê. De criança se transforma em um adolescente cheio de convicções, arrogante, se achando melhor que as outras pessoas. Sua tia já não acredita que fez a escolha certa em adotá-lo e sofre ao ver no tipo de homem que ele poderá se transformar.
A história começa mostrando o coração puro de Pierrot e a forma que ele foi criado. De repente ele se encontra em meio a loucura de ser o melhor, obediente, poderoso, orgulhoso. Nesta parte do livro, o garoto se vê em meio a um dilema de contar ou não a verdade e é muito difícil de se colocar no lugar dele neste momento, pois Pierrot só tem uma versão dos fatos, enquanto que nós leitores sabemos de tudo o que está se passando na história.
Então a guerra chega ao fim, Hitler cai, sua casa é tomada e o adolescente Pierrot entende as consequências de tudo o que acreditou e fez, e segue uma vida de culpa, saudade, anonimato. O fim da história é interessante e inesperado, mas o que vale do livro é uma nova forma de contar alguns horrores que Hitler propagou enquanto esteve no poder, uma forma sutil e indireta.
O Menino no Alto da Montanha é uma leitura fácil, rápida, inteligente, mas cheia de significados e de sentimentos contraditórios. Para mim, o personagem foi construído de uma maneira que não é possível sentir raiva dele, o garoto é só mais uma vítima entre tantas que sofreram com o nazismo, só que de uma maneira diferente.