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Medo de não ser suficiente

Jéssica Horácio de Souza

Psicóloga Jéssica Horácio – CRP 12/14394 – Psicoterapeuta Corporal

Você já reparou na quantidade de vezes em que algo dá errado e automaticamente você se considera culpado por isto? Já percebeu como você se desqualifica nas situações onde existe competição? E na forma como você se esconde na hora de se vestir, falar, agir, em geral ao se apresentar ao mundo?

Se suas respostas foram “SIM”, então é muito provável que você se considera insuficiente.

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A crença de que sempre falta algo em si é uma característica importante de indivíduos com baixa auto estima. Esta percepção acerca de si tem origem no modo com que este indivíduo foi investido afetivamente ainda na infância. Não significa necessariamente que a criança tenha sido prejudicada deliberadamente, mas, sim que ela tenha vivenciado situações que a fez se sentir inferior devido a alguma comparação, ou se sentir humilhada por não corresponder as expectativas alheias, ou até mesmo com a espontaneidade bloqueada quando quis ousar e se descobrir sexualmente.

Todo indivíduo é o seu temperamento (aquilo que é herdado) somado com as vivências ambientais (aquilo que é aprendido), esta soma resulta na personalidade que é completamente individual e subjetiva. Então, se esta personalidade lidar com traumas, dependendo do modo como foi constituída, poderá desenvolver alguma patologia psíquica. Então, não é o trauma em si que precisa ser modificado ou situações semelhantes que precisam ser evitadas, mas sim a forma como o indivíduo vivencia situações que possuem o mesmo contexto do trauma que a afetou.

Indivíduos que se consideram insuficientes experimentam constantemente e ciclicamente relacionamentos conjugais que possuem contexto de submissão, rejeição e negação. Ou ainda, evitam se envolver afetivamente com quem gostariam justamente por acreditar que não são suficientes para estas pessoas. O alvo, ou objeto de desejo destas pessoas geralmente são aquelas com personalidade autocentrada, segura, e elevada auto estima, alguns tipicamente narcisistas, outros simplesmente que nutrem o amor próprio.

O platonismo então é uma constante na vida das pessoas que acreditam ser insuficientes, a crença de que o mundo é injusto para elas, também, bem como o medo de exporem o que sentem e acabarem sendo percebidas como “demais”.

Os prejuízos emocionais e sociais são inúmeros na vida destes indivíduos, principalmente porque carregam consigo a sensação de falta. Falta beleza, simpatia, inteligência, dinheiro, status… Ás vezes elas possuem todas estas condições mas vivem ainda assim com a sensação de que precisam de algo a mais. Chegam no consultório tentando descobrir qual o seu “problema”, onde estão “errando”, o que mais precisam “dar” para o outro, ou como podem fazer para “serem” parecidas com fulano ou fulana. Os pedidos giram em torno da mesma busca: serem melhor para o outro porque acreditam que assim serão aprovadas.

Corporalmente apresentam olhos desvitalizados e com aspecto de “caídos”, lábios finos, tórax com leve a severo afundamento, coluna que lembra uma “corcunda”, pernas voltadas para dentro, quase formando um arco. Isto mostra a dificuldade de se sustentar na vida, corporalmente se apresentam frágeis, porém há exceções onde alguns indivíduos desenvolveram “máscaras” corporais para cobrir a fragilidade originária.

Emocionalmente carregam consigo uma sensação importante de carência afetiva, afinal, como tem poucos contatos e ou evitam pedir o que querem, vivem com a ausência de contato íntimo e verdadeiro, também trazem a sensação de injustiça como visão do mundo, mas não se consideram fortes para lutar pelo seu ideal.

Comportamentalmente se doam em excesso para agradar, e se esquivam de situações nas quais acreditam que não terão nada a oferecer, evitam chamar a atenção e embora sintam vontade de ousar, não o fazem por medo de se sentirem ridicularizadas.

A simples desconstrução de algumas crenças automáticas por si só já contribui para a mudança na forma de pensar, sentir e agir destes indivíduos, mas é necessário também identificar como e quando se originou o sentimento de vazio interior e o que se pensa a respeito dele

Aprender a reconhecer os pontos positivos da própria personalidade é fundamental para o desenvolvimento de uma auto estima positiva e saudável. Então sugiro uma reflexão: ao invés de se questionar sobre o que mais você precisa ser e dar para o outro, ou para a sociedade, questione o que você precisa ser e dar para si. Se você a cada dia fizer este exercício reflexivo, ao final de um ano teremos uma personalidade mais autocentrada, sabendo onde e como satisfazer as próprias carências e com segurança sobre aquilo que quer investir, isso porque saberá o que realmente merece. Pense nisso, e considere a possibilidade de investir na sua própria qualidade de vida se conhecendo mais, fazendo psicoterapia. Existem profissionais capacitados para lhe auxiliar no seu relacionamento consigo e com o mundo. Se dê uma chance.


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