Psicóloga Jéssica Horácio – CRP 12/14394
Psicoterapeuta corporal e tanatóloga
Você chega na recepção do consultório onde existe café, chá, biscoitos e balas, revistas, livros, música tocando num radinho, e você senta em uma cadeira, de preferência aquela que fica no canto, não mexe em nada, não olha para nada além das próprias mãos, e ali permanece até a hora que a porta abre e você é convidado a entrar. Você dá um sorriso tímido, espera a psicóloga te dizer aonde deve sentar e senta, e ali fica na mesma posição durante os 60 minutos de sessão, não olha para a garrafa de água que está ao seu lado, nem pra essência que está perfumando a sala, também não repara na caixa de lenços, você só desmancha a pose na hora de se levantar para ir embora.
Discrição. Invisibilidade. Polidez. Apatia. Você se reconhece nestas características? Talvez não, provavelmente você entende que não manifestar as próprias vontades em lugares desconhecidos é sinal de educação, ou ainda, quem sabe esse jeitinho de ser te lembre três palavrinhas que foram muito ouvidas ainda na sua infância: “não pode incomodar!”.
E é conduzida ainda por esta ideia que você segue vivendo, aliás, fazendo de conta que vive pois, se não se autoriza a sentir desejos, então, provavelmente você tenha aprendido somente a existir e não a se conectar com a vida que mora dentro de si.
Se você realmente se identifica com esse texto responda pra si como se sente por viver assim, se pergunte qual foi a última vez que você se deu o direito de mostrar um desejo seu e também de satisfazê-lo. Você sabe há quanto tempo vem suprimindo os seus desejos em prol da manutenção da imagem de pessoa “educada”? Lembra quando e como foi que esta característica começou a fazer parte da sua história?
Será que não é momento de aprender a viver?
Sentir é tão natural que não existe manual de como fazer para, o fato é que apesar de ser um processo natural, às vezes o ser humano o interrompe. Quando sentir é manifesto e gera incômodo em alguém, a tendência é que aquele que manifestou o que sentia se bloqueie emocionalmente para evitar gerar novos incômodos neste que ficou incomodado. Só que esse bloqueio se torna problemático quando fica crônico e generalista. Ele fica dolorido demais quando não se aprende a defender o próprio direito de simplesmente sentir.
A psicoterapia pode te ajudar a desbloquear os traumas que contribuíram para o desenvolvimento das suas neuroses, através do autoconhecimento o ser humano consegue se conectar com a sua história e construir um novo destino para si.
Te convido a experimentar não dar respostas imediatas quando alguém te perguntar se você quer algo, te convido a se dar um tempo para identificar naquele momento qual é o seu desejo mais genuíno. Não significa que ele será sempre atendido, mas ao menos ele será acolhido e isso evitará que você reforce a ideia de que não sente nada.
Quem sabe da próxima vez que você for ao consultório você leve consigo o seu direito de desejar e deixe ele conversar com você e te mostrar a importância que tem na sua vida, às vezes ele tomará um chá, em outras ele trocará a música da recepção, mas provavelmente em todas as vezes esse direito te mostrará que a vida só tem sentido sentindo.