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A luta da sargento Regiane precisa ser a luta de todas nós

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Minha última entrevista com a sargento Regiane tratou de uma pauta muito específica: a implantação, em Forquilhinha, da Patrulha Maria da Penha, um projeto vinculado à Rede Catarina de Proteção à Mulher, que oferece suporte e acompanhamento da Polícia Militar às vítimas de violência doméstica.

Engajada desde sempre com o ensinar às crianças, por meio do Programa Educacional de Resistência às Drogas (Proerd), a policial militar ainda se dedicava, diariamente, a proteger mulheres, vítimas de homens que, em teoria, deveriam lhes apoiar e amparar.

Um trabalho que, por si só, fornecia um suporte vital, em uma sociedade já cansada de ouvir, ler e assistir notícias envolvendo o abuso histórico – físico e psicológico -, do sexo masculino para com o feminino.

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Uma atuação que, por ser como era, nunca nos faria pensar na possibilidade do que estava por vir.

Mas infelizmente, veio. De forma brutal e cruel. Inimaginável.

A segunda-feira foi difícil, intragável, praticamente impossível. Principalmente para os familiares, amigos e companheiros de farda da sargento Regiane, que em um piscar de olhos descobriram que o inimaginável pode, em um rompante, se tornar realidade.

Só que muito além de seus entes queridos, a segunda-feira foi difícil, também, para nós mulheres. Integrantes de um todo, muito mais amplo do que imaginamos.

A angústia em meu peito e o aperto na garganta me questionaram durante todo o dia: onde vamos parar? Se uma policial militar, à frente dos trabalhos de proteção à mulher de uma cidade inteira, se torna vítima justamente do que combatia todos os dias?

Onde vamos parar? Se um homem, pai de duas crianças, se vê no direito – que reforço, não é e nunca será dele – de acabar com o futuro da mãe de seus próprios filhos? Que tipo de egoísmo irracional é esse?

Onde a sociedade vai parar?

Cinquenta e nove mulheres morreram em Santa Catarina vítimas de feminicídio em 2019, segundo dados da Secretaria de Estado da Segurança Pública (SSP). CINQUENTA E NOVE. E não somos o estado brasileiro com os maiores números. Há muitos ainda piores.

Falando em Brasil, o mesmo feminicídio que hoje tirou a sargento Regiane do convívio de seus dois filhos, vitimou outras 1.310 mulheres no Brasil no ano passado, segundo levantamento realizado pelo jornal Folha de São Paulo. Em 2018, haviam sido outras 1.222.

Milhares de mulheres que, dia após dia, perdem seu bem mais precioso – suas próprias VIDAS –, porque séculos depois, homens ainda não conseguem aceitar o “não”, o “chega”, o “não quero mais”. Milhares de mulheres que, dia após dia, perdem suas vidas por serem simplesmente mulheres.

A luta da sargento Regiane – e agora em sua memória e homenagem – precisa ser de todas nós.

Porque toda essa violência – gratuita e irracional – PRECISA parar. Se não, onde nós vamos parar?

 

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