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A linha tênue entre autocuidado e procrastinação

Jéssica Horácio de Souza

Psicóloga Jéssica Horácio – CRP 12/14394

Psicoterapeuta Corporal e Tanatóloga

Você certamente já comeu uma sobremesa muito gostosa, tão gostosa que dava vontade de repetir de novo. Mas ao repetir, sei lá, “do nada” ela ficou enjoativa. A garganta começou arranhar e aí você percebeu que a experiência já não estava mais sendo boa, ela de repente tinha se transformado em mal estar. Linha tênue né? Pois é, eu poderia falar sobre como os excessos às vezes se transformam em intoxicação mas talvez até aqui você tenha conseguido refletir sobre isto, então neste momento quero conversar com você sobre desconhecer os próprios limites, as próprias satisfações, sobre não ter uma boa relação com o seu termômetro físico e emocional.

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Gente, como fazer escolhas às vezes se torna um processo extremamente difícil e amedrontador, nestas vezes parece tão mais fácil ouvir alguém e atender exatamente o que este alguém nos diz, né? “O que você acha que eu devo fazer?” – Esta é uma pergunta que eu costumo ouvir nos primeiros atendimentos – nos primeiros porque no decorrer do processo terapêutico  o paciente vai percebendo que não dou respostas porque simplesmente não tenho este direito, somente ele tem.

“Será que eu estou me poupando de estresse ou será que estou procrastinando algo que eu preciso fazer?” Eu honestamente não sei responder esta questão, mas eu posso te fazer outras para que você pense um pouco sobre si:

  • Qual a sua condição emocional neste exato momento?
  • O que o seu corpo está pedindo?
  • Quais as consequências de atendê-lo?
  • Depois da satisfação que seu corpo está pedindo, você poderá novamente perguntar para si qual a sua nova condição emocional?

A insatisfação crônica aparece quando a pessoa não aceita o fim daquilo que é prazeroso e por não aceitar, quer sempre mais, e assim fica completamente dependente dos prazeres para viver, ela se torna refém dos próprios desejos.

Contar com o desejo para realizar algo que estabelecemos como importante ou necessário para a nossa vida – mesmo que a satisfação venha a longo prazo – é bastante arriscado e até mesmo infantil. Não pegue esta última palavra com uma conotação pejorativa, pois, só quero te dizer que é a criança que faz do desejo o seu mestre, é ela que conta com ele para  emocionalmente se movimentar na vida. Não, o desejo não vai aparecer sempre e ele também não regerá as nossas escolhas o tempo inteiro, até porque não é necessário. Podemos fazer escolhas que estão ligadas a outros correspondentes emocionais desde que essas escolhas combinem com o que queremos para nós.

É como descansar, o bem estar só aparecerá porque descansamos, ou seja, porque estivemos cansados e o ato de descansar aliviou a nossa fadiga. O descanso só tem efeito reparador quando há cansaço. E para que haja cansaço é necessário ter um movimento em prol do esforço e que nem sempre virá atrelado ao prazer imediato.

Quem sabe você a partir da leitura deste artigo, possa se perceber mais no seu dia a dia para identificar qual a linha que separa o seu autocuidado da pocrastinação, talvez você até já saiba e apenas precisa assumir conscientemente quando está em contato com um ou com o outro.


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