Desde que chegou ao Criciúma, o volante Jonatan Lima deu poucas brechas para ser elogiado. Entre titularidade e reserva, nunca mostrou futebol condizente com as ambições do Tigre, tampouco suficiente para convencer o exigente torcedor criciumense de que pode ser peça capaz de elevar o patamar da equipe. Só que esta coluna tem o objetivo de defende-lo de um episódio em especial.
No sábado, 23, na importante vitória sobre o CRB por 2 a 1, em Maceió (AL), pela 25ª rodada do Campeonato Brasileiro da Série B, Jonatan recebeu um cartão amarelo sem sequer ter entrado em campo.
A razão disso teria sido uma reclamação? Ou uma discussão fora das quatro linhas? Nada disso! A súmula assinada pelo árbitro capixaba Dyorgines José Padovani de Andrade aponta o seguinte: “Entrar no campo de jogo sem autorização do árbitro, para comemorar o gol de sua equipe”.
Você não leu errado. Ele foi advertido por festejar o gol de Silvinho, que deu a vitória ao Tigre. É a comprovação mais clara da inversão de valores do futebol brasileiro. Cada vez mais encontramos árbitros coniventes com entradas ríspidas e reclamações acintosas de jogadores, mas que punem quem simplesmente comemora um gol, não atrapalhando em nada o andamento de uma partida.
Óbvio que a culpa não é do Dyorgines. Se ele deu cartão para o pobre coitado do Jonatan, é porque há uma orientação. Em maio, a Confederação Brasileira de Futebol soltou uma nota em que diz: “Jogadores substitutos, substituídos e membros da comissão técnica podem comemorar o gol, porém as comemorações não podem ser excessivas e os mesmos não estão autorizados entrar no campo de jogo”.
Nada pode ser mais absurdo e autoritário que isso – aliás, a Comissão de Arbitragem da CBF é comandada por um coronel [Marinho]. Desde que não desrespeite ou ofenda os adversários, vibrar de forma entusiasmada e celebrar com o autor do gol é legítimo e faz parte da festa do futebol. É uma incrível inversão de valores que mostra o buraco em que o esporte bretão está enfiado em nosso país. Bater, pode. Reclamar, pode também. Comemorar, não e esteja amarelado.
O xis da questão é: no que isso atrapalha a partida? É o grande momento do jogo, onde os jogadores lutam 90 minutos para conseguir e que motiva milhares de pessoas a sair de casa para acompanhar as partidas. Como querem algo contido?
O prejuízo agora vai para a conta do Criciúma, já que lá na frente, essa advertência pode fazer diferença e Jonatan Lima ser suspenso por acúmulo de cartões – e quem diz que o torcedor vai lembrar que um desses cartões veio de uma comemoração de gol? Vai sobrar para a cabeça do jogador, que será cobrado pela suspensão. E tudo isso por causa de uma medida autoritária e descabida, que vem de cima para baixo, e força um árbitro a amarelar um atleta por simplesmente comemorar um gol.