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A intransigência do velho e a intransigência do novo

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É uma luta ingrata: debater com quem já fechou a mente. Opinião, costumo dizer, não é algo que você coloca a mão no bolso e puxa. Opinião também se constrói e, quando bem embasada, não se trata de mera opinião. E tente discutir, seja lá o que for e com quem for quando a pessoa do outro lado sequer consegue parar para ouvir. Ou não quer…

Lembro de Cortella dizer algo mais ou menos assim: “Velho é aquele que já se fechou para novas possibilidades”. Talvez a frase nem seja escrita dessa forma, mas ela assim soa para mim (olha, será que é minha opinião sobre isso?), entretanto é com essa forma de pensar que às vezes mensuro se vale a pena conversar, dialogar, debater ou construir qualquer eventual possibilidade de novo conhecimento com alguém.

Nesses tempos de polarizações ideológicas na política, na economia, na cultura e na religião, muitas vezes é precioso manter-se calado e apenas ouvir. Ou nem ouvir. A saúde psicoemocional não tem preço. A paz de espírito, ah, aquela paz. Nesse turbilhão que se tornou o ano de 2020 é mais fácil ter um coração de ferro e um espírito de pedra.

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Normalmente ouço de meus alunos e minhas alunas a recorrente reclamação de que os mais velhos nunca querem lhes ouvir. Que os mais velhos julgam saber de tudo e que são uns cabeças-duras. Eu, sendo mais velho que eles, concordo, até porque conheço e convivo com pessoas mais velhas. As pessoas mais velhas falam e falam o quanto os mais jovens são cabeças-duras, que nunca querem lhes ouvir, que julgam saber de tudo. Nós, no “meio do caminho” concordamos com os mais jovens e os mais velhos: são todos uns cabeças-duras!

Vemos essas “cabeças-duras” intransigentes em todos os lugares e com todas as idades, na verdade. Julgam saber de política sem nunca terem-na estudado. Reclamam de advogados mas sequer conhecem um pouco das leis. Excomungam médicos mas levam uma vida em que a saúde fica por último. Maldizem escolas, professores ou a educação como um todo sem respeitar as regras gramaticais ou sinais de trânsito.

Erramos “feio” várias e várias vezes em nossas intransigências diárias. Como podemos exigir respeito se dizemos ao mesmo tempo: “Essa é minha opinião e não vou mudar!”. Não que seja preciso mudar de opinião, principalmente quando ela é bem embasada. O que realmente incomoda as pessoas é o fato de alguém apresentar-se com toda uma “soberba opiniosa”. O nome disso é cabeça-dura mesmo e com gente assim se usa de muita paciência ou se faz-se de vento e deixa-se as palavras serem sopradas para longe.

Afinal, ser velho é sinal de experiência, alguma sabedoria, que também pode acometer qualquer jovem que busque realmente aprender. Por outro lado, se for para dialogar com as pessoas, seja por um aplicativo de celular ou mesmo olho no olho, que isso seja feito de maneira sadia e não se embasando em medíocres ilustrações de “zapzap”. Pois debate significa debater, discussão é para ser discutida e não vencida. Quem age para ganhar “no grito” não quer aprender e já demonstra que envelheceu antes da idade chegar.


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