A televisão é um lixo! É, ouço muito isso, já disse isso muitas vezes também. Inclusive vi um carro com um adesivo chamando uma emissora de TV de lixo. Gostaria de perguntar ao proprietário ou proprietária do automóvel se ele ou ela defende alguma outra emissora de canais abertos só para “medir a febre”.
Recordo-me de uma frase atribuída a Groucho Marx dizendo: “Considero a televisão muito educativa. Toda vez que alguém na sala liga o aparelho, vou para o quarto ler um livro…”. Isso que nos falta: leitura. Ler livros, não apenas os “bons”, nem somente os que concordamos.
Leitura de mundo, ouvir as pessoas, ouvir os profissionais de uma área, os especialistas de verdade no assunto, aqueles que se dedicam a desvelar as diversas realidades, que estudam e que vivenciam os fatos elucidados e analisados. De informações nós temos aos montes, estão por aí em toda a internet. O problema é que hoje qualquer pessoa “munida” de vídeos quaisquer já assume ares de autoridade intelectual.
Entretanto, só a leitura de livros por si só não ajuda no contexto geral. Imagine um antropólogo que nunca vivenciou o cotidiano de uma cultura longínqua a qual se propõe “analisar”. O mesmo ocorre com aquilo que chamamos de educação, quando na verdade quer se falar em escola. Melhor dizendo: educação escolar. Caramba, como vejo “especialistas” nessa área! Até cansa dizer para esses “especialistas de internet” que é preciso estar atuando na sala de aula para poder tecer uma crítica mais saudável e, pelo menos, mais “parcial”, se é que isso é possível.
Temos salas de aulas, por exemplo, com quatro e até cinco alunos ou alunas que necessitam do acompanhamento de segunda professora. Alguns casos muito complicados e, aos ditos “normais” – como costuma-se falar – há tantos outros problemas a serem vencidos. Profissionais ruins existem em quaisquer áreas, de professores a médicos ou vendedores. Do mesmo modo há péssimos comerciantes, infelizes patrões e preguiçosos funcionários. Não se salvam políticos de profissão, policiais, padres ou pastores. Mas a questão é: quem é você para criticar o trabalho alheio se não o vivencia em sua totalidade? Óbvio que qualquer pessoa pode tecer críticas, contudo, se faz necessário um bom senso para cada situação e generalizar se torna tão ruim quanto se calar.
Me incomoda ver as pessoas criticarem os engenheiros porque um prédio desabou ou uma ponte ruiu. Me incomoda ver advogados serem mal falados porque alguns defendem bandidos, sejam pobres ou engravatados (os mais perigosos!). É o trabalho deles de advogar contra ou favor. Me incomodam críticas direcionadas aos enfermeiros e enfermeiras que fazem um trabalho tão complicado! Caminhoneiros, bancários, pedreiros ou artistas. Você que é o “especialista” graduado pela Unizap ou Unitube deveria calar-se antes de cometer mais um absurdo e classificar a todos de forma pejorativa por causa uma ou outra “maçã podre”.
A internet é uma excelente ferramenta, se cada um de nós souber usar. Mas o espírito investigativo, a humildade, o amor pelo conhecimento, o bom senso e a escuta atenta e silenciosa são melhores. E fundamentais!
Em tempo, recorro a Rubem Alves: “Nasce então o especialista: aquele que conhece cada vez mais de cada vez menos”. Eis um bom alerta para nós: às vezes mal sabemos que não sabemos o suficiente daquilo que ousamos proclamar.