O amor é o mais antigo dos Sentimentos, a Paixão, seu primogênito. Logo após a Criação o Amor já se fazia presente. E por causa disso o Amor é um idoso.
Todos os outros sentimentos surgiram depois, inclusive a Inveja, pois muitos Sentimentos se ressentem da posição do Amor.
O Amor não é sábio como a Sabedoria, ou justo como a Justiça. Por causa da Inveja nasceu o Ódio, o mais odiado dos Sentimentos. Mas o que faz os outros Sentimentos temerem e odiarem o Ódio? Porque o Ódio, filho da Inveja, é muito mais jovem que os outros Sentimentos, talvez metade da Idade do Amor. Porém o Amor vivia sozinho em seus devaneios enquanto os outros Sentimentos o desejavam, o amavam. Contudo o Amor volvia seus olhos para além de qualquer coisa…
Num belo dia o Amor viu aquele jovem Sentimento, quieto, triste, isolado na relva sob a sombra aconchegante de uma benfazeja árvore. Ao longe, o Amor se compadeceu de sua Dor sem conhecê-lo e resolveu aproximar-se. Seus olhos se cruzaram na efemeridade de um momento infinito. Embora o Amor, tão vivido, tão experiente, quisesse negar, não pôde lutar contra o olhar vago de abandono mesclado ao sorriso jovial e elegante do Ódio.
Amor e Ódio se apaixonaram de tal forma que Sentimento algum conseguiu explicar. O Amor, já velho, se viu rejuvenescer. O Ódio, tão inocente, se viu amadurecer.
E assim se explica porque o Amor não tem idade. O Antigo ama o novo e o Novo ama o Antigo. E a Paixão enlaça os corações enamorados.