Psicóloga Jéssica Horácio – CRP 12/14394 – Psicoterapeuta Corporal e Tanatóloga
Sabemos que nós seres humanos somos diferentes um dos outros e que aquilo que cabe para o outro não precisa necessariamente caber para nós. Isso vale para roupas, sapatos, pessoas, lugares… Mas apesar de sabermos disso, você já percebeu que ainda em alguns momentos insistimos em pertencer a um lugar que não combina com a gente? Bem, geralmente nem nos damos conta disso e é aí que o sofrimento psíquico começa a acontecer.
É que embora compreendamos racionalmente esta lógica da vida, nossos sentimentos não conseguem acessar este conteúdo racional. É necessário então falar com estes sentimentos numa linguagem compatível com eles. A razão pede realidade, os sentimentos pedem elaboração.
Cada experiência de exclusão, rejeição, humilhação, inadequação, pode intensificar crenças internas a respeito de si e da vida. Se o outro está rodeado de amigos e eu estou sozinha é porque ele é uma ótima companhia e eu não. Se a maior parte do meu círculo social se diverte em festas e eu em casa assistindo filme, logo me sinto inadequada e com isso intensifico alguma crença negativa a meu respeito e acabo enaltecendo os outros. Estes sentimentos tem origem no decorrer da infância e são oferecidos à criança através das suas primeiras relações.
Quando as diferenças são classificadas entre certo e errado, boas ou más, surge a baixa autoestima que acaba exigindo que nos adaptemos àquilo que o outro vive, afinal, é ele quem nos classificou como ruim, logo, ele é que é bom. Com o tempo não precisamos mais que alguém nos classifique, nós mesmos internalizamos o nosso rótulo negativo e passamos a nos orientar através dele.
Às vezes por termos uma rígida obstinação nem percebemos que o lugar ou as pessoas não combinam com quem somos, e é aí que o corpo vai dando sinais para sairmos daquele espaço: o desânimo aparece, as pernas quase ganham vida própria de tanto que se debatem, o coração acelera, ficamos ofegantes e impacientes. Porém nem sempre a mente entende estes recados, e por ver que todos estão confortáveis ali, exigimos o mesmo de nós, afinal, quem deve estar com algum problema sou eu já que todos estão felizes.
O problema não está somente na tentativa de pertencer, mas nos sentimentos que a não concretização deste desejo suscita e nas crenças que estes sentimentos reforçam e que por fim acabam orientando uma vida.
Quando as dores da inadequação surgem cabe conversar com os próprios sentimentos, perguntar à eles o que precisam para cessarem. As respostas podem variar mas a base de cada uma delas será: pertencer. É neste momento que é necessário ir ao encontro daquele lugar que é seu, que tem a sua essência, que te toca e te traz conforto e confiança. Este pertencimento pode ter qualquer nome, pode ser uma pessoa ou um lugar, pode ser só ou com alguém, mas é neste lugar que a sua identidade precisa ser resgatada.
A sensação de ser inadequado ou estranho pode ser resultado de você não combinar com o ambiente em que está tentando se inserir, de você estar se forçando a ser alguém que não é. O resultado não tem como ser diferente, não tem como desenvolver intimidade com algo com o qual não se identifica. Então faça as pazes com o seu eu, aprenda a ver as diferenças como singularidades e não como polaridades entre bom e mal. Construa o seu próprio lugar e assim não precisará caber em todo e qualquer ambiente.
Está tudo bem em não gostar de tudo e em não se identificar com o que é considerado “bom”, há vários outros espaços bons que combinam mais com a pessoa que você é. Descubra quais são eles e se aproprie do que te toca.