A Guerra Não Tem Rosto de Mulher é um livro real, emocionante, forte, dolorosamente real. A autora Svetlana Aleksiévitch conversou com inúmeras mulheres soviéticas, durante anos, que lutaram na Segunda Guerra Mundial e o resultado foi esta obra com depoimentos, detalhes não imaginados, uma nova visão sobre essa parte da história. Na página 18, a escritora deixou claro que “não estou escrevendo sobre a guerra, mas sobre o ser humano na guerra. Não estou escrevendo a história de uma guerra, mas a história dos sentimentos. Sou uma historiadora da alma”. Então, bem-vindo, bem-vinda a uma leitura diferente, a conhecer o que pouco se fala, a uma visão de outro ângulo do horror de uma guerra, com menos heroísmo.
Os depoimentos das mulheres neste livro são marcantes, elas falam de frio, fome, sono, sujeira, piolho, falta de estrutura, violência sexual, morte. Lembram da angústia, solidão, companheirismo, esperança, força e muito mais. Os detalhes são muito ricos, memórias vivas que depois de décadas ainda fazem estas mulheres sofrer, chorar, ter medo de falar. O preconceito que sofreram depois da guerra, as dificuldades enfrentadas depois que o dia da vitória chegou, também marcam os depoimentos. Os horrores da guerra se perduraram por muito tempo depois que ela acabou, no pós-guerra as mulheres do front enfrentaram desprezo e discriminação. Quem iria casar com elas?
São vozes de centenas de mulheres que aparecem neste livro, elas foram fundamentais para essa vitória, indo desde os bastidores, hospitais até o front. Faziam qualquer função, qualquer trabalho que eram designadas, como por exemplo, desarmar bombas, dirigir tanques, cuidar dos feridos, lavar roupas, fazer pão, pilotar e muitas outras responsabilidades. Mulheres muito jovens, umas com 16, 17, 18 anos que foram criadas amando a Pátria, acreditando que a Pátria era o mais importante de tudo na vida e voluntariamente foram combater as tropas nazistas. As crenças destas mulheres era um dos fatores que as mantinham fortes, pois acreditavam na vitória e isso era o que mais importava.
Os relatos são impressionantes. Alguns longos, outros curtos, mas todos atingem o objetivo de mostrar o que cada uma sentia, ou sentiu, e o que mais foi impactante para ela. Só quem viveu para saber, mesmo imaginando os horrores que estas pessoas passaram, ao ler o livro é possível se deparar com algo bem pior. Não há heroísmo entre as mulheres, apenas dores, amores, perdas, conquistas, trabalho, cansaço e dor, muita dor.
Uma leitura rica em detalhes sobre uma guerra. Uma leitura difícil, mas que não se consegue parar. A Guerra Não Tem Rosto de Mulher é um livro marcante, verdadeiro, realista. Ao ter coragem de ler esta obra, provavelmente diversos relatos vão povoar os pensamentos por bastante tempo.