“Santa Catarina está voltando à normalidade”, assegurou o governador Eduardo Pinho Moreira, em coletiva à imprensa na manhã desta quinta-feira, 31, no Centro Integrado de Gerenciamento de Riscos e Desastres (Cigerd), em Florianópolis. A declaração veio acompanhada de um agradecimento às forças de segurança do Estado, Forças Armadas (Exército, Marinha e Aeronáutica) e aos servidores que se empenharam nos dez dias de movimento, garantindo os menores impactos possíveis à população catarinense.
O governador destacou que o comitê de crise se mantém em alerta, com sinal amarelo, e que permanece a mobilização dos órgãos envolvidos na operação. “Aos poucos vamos retomando à normalidade, como no caso da saúde, em que as cirurgias eletivas suspensas neste período voltarão a ser inseridas no calendário de cada hospital”, afirmou.
Campanha
Eduardo Pinho Moreira fez um relato das ações realizadas para minimizar os impactos causados pela paralisação, como escoltas de comboios de combustíveis, ração, medicamentos, oxigênio, gás e produtos químicos para tratamento de água. O governador anunciou uma campanha para o consumo de produtos catarinenses com intuito de auxiliar com mais rapidez a volta da normalidade na economia.
“Foram dias de tensão, dificuldades e expectativas sobre o movimento que parou o Brasil e em Santa Catarina não foi diferente. Nós teremos uma reunião com todos os setores produtivos do Estado para fazer uma radiografia completa das perdas que existiram e começaremos uma campanha para estimular o consumo dos produtos catarinenses para, de alguma forma, minimizar o impacto na nossa economia”, explicou Moreira, que se reúne com todo setor produtivo nesta sexta-feira, 1.
Rodovias liberadas
Durante os dez dias de paralisação, a Polícia Militar contabilizou mais de 95 mil quilômetros rodados, número equivalente a duas voltas ao mundo, além de 27 horas de voo do helicóptero do Serviço Aeropolicial (Saer), além das centenas de policiais e viaturas que garantiram que Santa Catarina amanhecesse sem nenhum bloqueio em rodovias estaduais e federais neste feriado de Corpus Christi.
“Tínhamos informações que a população não tinha. Nos adequamos à situação. Havia um forte apoio popular ao movimento até o domingo, então não podíamos intervir. A partir de segunda, quando identificamos que o movimento passou a ter caráter político, aí sim atuamos e em 48 horas trouxemos de volta a normalidade”, declarou o governador.
Trabalho continua
“A Polícia Militar está mobilizada nesta terceira etapa de atuação. Agora passamos a monitorar a volta à normalidade, intensificando nossa presença, principalmente no perímetro urbano. Vamos ajudar a controlar a questão dos preços abusivos, filas e corrida na busca dos suprimentos”, afirmou o comandante geral da Polícia Militar, coronel Araújo Gomes.
O abastecimento de combustíveis para a população também deverá estar normalizado até o fim de semana. Da distribuidora da Petrobras, em Antônio Carlos, saíram 1,2 milhão de litros de gasolina que garantiram a distribuição nos municípios da Grande Florianópolis.
Nesta quinta-feira, um comboio de 22 caminhões seguiu com escolta da Polícia Militar, Civil e Saer para o Sul, região que teve maior dificuldade no reabastecimento de combustível devido ao bloqueio em Imbituba, desmobilizado na noite de quarta-feira, 30.
Medicamentos e insumos para a saúde, que levariam mais tempo para chegar mesmo com a liberação das rodovias, foram enviados com o avião Arcanjo 04, do Corpo de Bombeiros, que realizou o transporte do aeroporto de Jaguaruna para o hospital de oncologia de Joaçaba.
A produção da agroindústria do Oeste também está a caminho do porto de Itajaí. Viaturas realizam a escolta de 150 veículos em um comboio que chega a 14 quilômetros de caminhões. Os aeroportos também estão funcionando normalmente. O comboio de caminhões com carregamento de querosene de aviação volta de Araucária sem problemas para reabastecimento.
Mantida produção de referência
Um dos setores mais afetados com a paralisação, o agronegócio catarinense, ganha dinamismo com o retorno à normalidade das principais atividades como o abate de aves e suínos e a coleta de leite das propriedades. “O setor da agricultura sofreu muito, porque além do grande volume de cargas que movimenta, trabalha com produtos perecíveis”, observou o secretário de Estado da Agricultura e Pesca, Airton Spies, que complementou: “Ainda assim, passamos por esse momento de extrema dificuldade, atuando no limite, mas saímos dele com a imagem preservada de um setor que produz com excelência e é referência em sanidade.”
Spies aponta que a agroindústria catarinense é responsável pela produção de, aproximadamente, 7 milhões de suínos e 206 milhões de aves, sendo que em situações de normalidade são abatidos cerca de 40 mil suínos e 3,2 milhões de aves por dia. Com as dificuldades para alimentar, abater e armazenar os animais, o secretário explicou que a comunicação entre o serviço público e a iniciativa privada foi permanente durante os dez dias de greve dos caminhoneiros.
“Usamos de todas as técnicas para minimizar os efeitos que pudessem causar a morte de animais, principalmente por inanição”, destacou Spies. Segundo o secretário, optou-se por práticas como apagar as luzes das granjas, para reduzir o metabolismo dos animais e evitar ainda mais desgaste. Como não foi possível utilizar a ração balanceada para a alimentação, Airton Spies antecipou que aves e suínos provavelmente não atingirão os padrões de porte e peso. “Foi um esforço árduo e conjunto, mas conseguimos preservar a vida e a biossegurança”, acrescentou.
No setor leiteiro, a volta das coletas nas propriedades também representa um alívio para os cerca de 48 mil produtores que entregam leite em Santa Catarina. A produção diária no Estado chega a, aproximadamente, 6,5 milhões de litros, conforme dados da Secretaria de Estado da Agricultura e Pesca.
Também prejudicado, o setor de hortigranjeiros volta a recuperar o ritmo de produção com a normalidade do abastecimento do Ceasa. Para estimular o setor produtivo, o Governo do Estado reforça a importância de que, num exemplo de solidariedade e união, a preferência seja pelo consumo dos produtos catarinenses.
Investigações e prisões
Segundo o delegado geral da Polícia Civil, Marcos Flávio Ghizoni Júnior, o trabalho da Polícia Civil será intensificado neste momento. “Além da atuação nas ruas, a Polícia Civil já estava monitorando os movimentos desde o início, identificando possíveis autores de crimes. Nós já estamos com uma sequência de inquéritos policiais instaurados e as pessoas serão responsabilizadas pelos seus atos”, afirmou.
Em casos isolados, como o do apedrejamento de um veículo particular em Imbituba, o autor poderá responder por tentativa de homicídio. “É o nosso papel levar ao conhecimento do Judiciário e do Ministério Público essas pessoas que praticaram crimes”, pontuou.
Durante a atuação, 23 pessoas foram conduzidas pela Polícia e outras 13 foram presas na noite de quarta-feira, 30, em Imbituba, sendo que nenhum é caminhoneiro. Duas pessoas foram presas em Caçador por desacato.