Especialista em Gastrocirurgia fala sobre os riscos da obesidade e os últimos avanços da medicina no tratamento.
Se as suas roupas estão ficando apertadas, os sapatos não servindo mais, houve um aumento considerável de gordura na faixa da cintura e você está sofrendo uma forte compulsão alimentar, então fique atento, pois estes são alguns sinais de alerta, de que você está ficando ou já está obeso.
A obesidade é uma doença multifatorial que ocorre pelo aumento excessivo na reserva natural de gordura do corpo, contribuindo significativamente para o aumento no índice de mortes por infarto agudo do miocárdio, acidentes vasculares cerebrais e alguns tipos de câncer e muitas outras doenças. Mas não entre em desespero, pois essa é também a realidade de um número cada vez maior de pessoas no mundo inteiro.
Segundo a Organização Mundial da Saúde atualmente 1,9 bilhão de adultos tem sobrepeso, sendo 600 milhões com obesidade. No Brasil não é diferente. Nos últimos 35 anos a prevalência de obesidade subiu de 5,4% para 21% da população. De acordo com dados do Ministério da Saúde, a cada ano são 1 milhão de novos casos de obesidade no país e a cada 15 anos dobra a taxa de casos de obesidade. Estudos mostram que, se a taxa de crescimento da obesidade continuar a mesma, o Brasil atingirá, em menos de 10 anos, o mesmo índice dos Estados Unidos, onde mais de 36% da população vive com obesidade.
Mas o que de fato é a obesidade? Quando uma pessoa é considerada obesa? Qual a forma mais comum de avaliar está condição? Quais as opções terapêuticas? A medicina está avançando neste campo e inovando com novos tratamentos? Para esclarecer dúvidas como essa que nossa reportagem conversou com Dr. Rafael Alencastro Brandão Ostermann, especialista em Gastrocirurgia e Endoscopia Digestiva e Professor de Cirurgia da Faculdade de Medicina da UNESC.
O que é obesidade?
A obesidade é uma doença caracterizada pelo excesso de gordura no corpo. O acúmulo ocorre quando a oferta de calorias é maior que o gasto de energia corporal e resulta frequentemente em sérios prejuízos à saúde. Ela é aferida pelo Índice de Massa Corporal (IMC), que é calculado através de uma pequena fórmula que correlaciona peso e a altura. A priori, as pessoas com IMC acima de 30 kg/m² são obesas e acima de 40 kg/m², são consideradas obesas mórbidas.
Quais as principais causas?
A obesidade resulta da interação de fatores genéticos, ambientais e emocionais, além do estilo de vida do indivíduo. Os hábitos de vida contemporânea favorecem o consumo exagerado de alimentos de alto valor calórico, mas com pobre valor nutricional. Essa ingestão excessiva também pode ser desencadeada por transtornos de compulsão alimentar. O sedentarismo é outra causa indutora da obesidade. É necessário tentar incluir atividades físicas regulares na rotina diária.
O gasto energético vem diminuindo com os confortos da vida moderna, como controles remotos de TV, elevadores, automóveis, escadas rolantes etc. Pesquisas mostram a relação entre herança genética e obesidade. Normalmente, pais com peso normal têm em média 10% dos filhos obesos. Quando um dos pais é obeso, 50% dos filhos certamente o serão. E, quando ambos os pais são obesos, esse número pode subir para 80%. Também alterações nas funções das glândulas tireoide, suprarrenais e da região do hipotálamo podem provocar a obesidade.
Quais as estratégias disponíveis hoje para o tratamento da obesidade?
Existem diferentes formas de tratamento que vão desde a alimentação saudável e prática de exercícios, medicamentos, passando por procedimentos endoscópicos – como balão intragástrico e gastroplastia endoscópica até chegar na cirurgia bariátrica. Esta por sua vez indicada para casos extremos de obesidade, onde as opções anteriores falharam.
Quando a cirurgia bariátrica é indicada?
Ela é indicada para pacientes com IMC acima de 40 kg/m² ou acima de 35 kg/m², quando associado a outras doenças (com morbidades associadas), e que não tiveram sucesso com tratamentos não cirúrgicos para emagrecer.
Quais os tipos de cirurgia existentes para esse caso?
Existem basicamente 3 procedimentos cirúrgicos bariátricos:
- Gastrectomia Vertical:Procedimento restritivo onde ser reduz cirurgicamente o tamanho do estômago promovendo a redução do peso.
- Bypass Gástrico:Procedimento onde ocorre redução do tamanho do estômago e desvio do intestino reduzindo a absorção de nutrientes, e assim promovendo a redução do peso corporal
- Duodenal Switch:Dos três (3) é o que promove maior redução do peso, sendo indicado aos pacientes super-obesos.
Como se prevenir da obesidade?
Apesar da relevância dos fatores genéticos no desenvolvimento da obesidade, essa situação pode ser evitada, a começar pela educação das crianças dentro de casa e na escola. Deve-se optar sempre por refeições e lanches saudáveis, e, de preferência, evitar alimentos industrializados e processados. Doces, frituras, refrigerantes e até bebidas alcoólicas podem ser consumidos, mas em ocasiões específicas e sempre com moderação.
Além da alimentação saudável, rica em carnes magras, vegetais, frutas e massas integrais, deve-se manter a prática regular de exercícios físicos. Atividades como esportes coletivos, corrida, dança, caminhada e ciclismo, por exemplo, além de fazerem bem ao corpo, são fontes de prazer e socialização.
Qual é o passo a passo para se livrar do excesso de peso?
Primeiro deve-se procurar acompanhamento multiprofissional com endocrinologista, nutricionista, psicólogo, fisioterapeuta e educador físico. O objetivo é tentar identificar os fatores desencadeantes da obesidade e realizar um novo projeto de vida, com metas a alcançar. É preciso ter persistência e paciência para se ter sucesso neste tratamento.
O objetivo é conscientizar o paciente da necessidade de trocar o sedentarismo e a má alimentação por hábitos de vida mais saudáveis que contemplem atividade física e dieta balanceada. Nos casos em que a obesidade traz prejuízos à saúde e o tratamento clínico se mostra ineficaz, o tratamento cirúrgico deve ser considerado. O método é conhecido popularmente como “redução de estômago”, mas vai muito além. Existem vários tipos de cirurgias disponíveis e cabe ao médico apresentá-los ao paciente e recomendar o mais apropriado e seguro.
Quais as principais doenças causadas pela obesidade?
A obesidade está aumentando em todo mundo, e ajudando a disseminar doenças crônicas como hipertensão, diabetes, acidentes vasculares, asma e apneia do sono e alguns tipos de câncer. A associação entre obesidade e morte prematuro está bem documentada em grande estudos clínicos.
Existe algum tipo de procedimento menos invasivo?
A gastroplastia endoscópica é um procedimento realizado sem incisões, onde se reduz o tamanho do estômago utilizando um endoscópio e instrumentos altamente especializados realizando um sutura gástrica interna. Este procedimento é feito de forma ambulatorial e proporciona uma redução de peso bastante interessante.
E o balão intragástrico é recomendado em quais casos?
O balão intragástrico é um dispositivo de silicone, esférico e colocado por endoscopia digestiva, ocupando um espaço dentro da cavidade gástrica. Indicado para indivíduos com IMC entre 27 e 35 e naqueles com obesidade mórbida que não querem realizar a cirurgia ou possuem risco cirúrgico elevado.
Qual a última inovação em tratamento contra a obesidade?
Destacaríamos três procedimentos inovadores no combate a obesidade:
- Gastroplastia redutora endoscópica:Utiliza-se um dispositivo chamado Overstitch que realizar uma sutura endoscópica reduzindo internamente o tamanho do estômago. Já disponível no Brasil.
- AspireAssist:dispositivo colocado por endoscopia é que permite remover cerca de 30% do volume alimentar no estômago, antes das calorias serem absorvidas pelo corpo. Ainda não disponível no Brasil.
- Endobarrier: Em fase de testes, método que se baseia no revestimento da parede interna do duodeno (primeira porção do intestino delgado) por uma membrana de teflon implantada endoscopicamente. Essa espécie de capa impede que os nutrientes sejam absorvidos nesse pedaço do órgão, o que ocasiona perda de peso e controle do nível de glicose (açúcar) presente no sangue – quando há acúmulo da substância na corrente sanguínea, está caracterizada a diabetes.